quinta-feira, 8 de julho de 2010

AMIGO... Martha Medeiros

Amigo é coisa pra se guardar do lado esquerdo do peito...
dentro do CORAÇÃO!
Martha Medeiros
Dei pra me emocionar cada vez que falo dos amigos.
Deve ser a idade, dizem que a gente fica mais sentimental.
Mas é fato: quando penso no que tenho de mais valioso, os amigos aparecem em
pé de igualdade com o resto da família.
E quando ouço pessoas dizendo que amigo, mas amigo meeeesmo,
a gente só tem dois ou três,
o peito e fico até meio besta de tanto orgulho:
eu tenho muito mais do que dois ou três.
São uma cambada.
Não é privilégio meu, qualquer pessoa poderia ter tantos assim, mas quem se dedica?
Fulano é meu amigo, Sicrana é minha amiga. É nada. São conhecidos.

Gente que cumprimentamos na rua, falamos rapidamente numa festa,
de repente sabemos até uma fofoca pesada sobre eles, mas amigos?
Nem perto. Alguns até chegaram a ser, mas não são mais
por absoluta falta de cuidado de ambas as partes.

Amizade não é só empatia, é cultivo. Exige tempo, disposição.
E o mais importante: o carinho não precisa - nem deve - vir acompanhado de um motivo.
As pessoas se falam basicamente nos aniversários,
no Natal ou para pedir um favor - tem que haver alguma
razão prática ou festiva para o contato.
Pois para saber a diferença entre um amigo ocasional e um amigo de verdade,
basta tirar a razão de cena.
Você não precisa de uma razão, basta sentir a falta da pessoa.
E, estando juntos, tratarem-se bem.
Difícil exemplificar o que é tratar bem. Se são amigos mesmo,
não precisam nem falar, podem caminhar lado a lado em silêncio.
Não é preciso troca de elogios constantes,
podem até pegar no pé um do outro, brigar talvez (e porque não!?) delicadamente.
Não é preciso manifestações constantes de carinho,
podem dizer verdades duras, às vezes elas são necessárias.

Mas há sempre algo sublime no ar entre dois amigos de verdade.
Talvez respeito seja a palavra. Afeto, certamente.
Cumplicidade? Mais do que cumplicidade.
Sintonia? Oh, céus! Santa pieguice, Batman! Amor?
Esta lengalenga de novo? Sério, só mesmo amando um amigo
para permitir que ele se atire no seu sofá e chore todas
as dores dele sem que você se incomode nem um pingo com isso.
Só mesmo amando para você confiar a ele o seu próprio inferno.
E para não invejarem as vitórias um do outro.

Por amor, você empresta suas coisas, dá o seu tempo,
é honesto nas suas respostas, cuida para não ofender,
abraça causas que não são suas, entra numas roubadas,
compreende alguns sumiços - mas liga quando o sumiço é exagerado.
Tudo isso é amizade com trato.
Se amigos assim entrarem na sua vida, não deixe que sumam.
Porém, a maioria das pessoas não só deixa como contribui
para que os amigos evaporem. Ignora os mecanismos de manutenção.

Acha que amizade é algo que vem pronto e que é da sua natureza ser constante,
sem precisar que a gente dê uma mãozinha.
E aí um dia abrimos a mãozinha e não conseguimos contar nos dedos
nem dois amigos pra valer.
E ainda argumentamos que solidão é um sintoma destes dias de hoje,
tão emergenciais, tão individualistas.
Nada disso.
A solidão é apenas um sintoma do nosso descaso.