quarta-feira, 28 de setembro de 2011

O CONSOLADOR


© Letícia Thompson

Quando repenso em meu passado, percebo que nos momentos mais críticos da minha vida nunca estive sozinha.

Como todo mundo um momento ou outro da existência, passei por dificuldades. Há pessoas que, por razões que desconheço, penam mais que outras. E aconteceu comigo de ter momentos onde eu não tinha mais forças nas pernas para caminhar. Não era sofrimento físico, era moral, onde eu não podia olhar pra frente de tanto os olhos viviam cheios de lágrimas.

Nessas horas eu falava ainda mais forte com Deus. Nessas horas eu dizia: "me leva porque já não sei mais ir sozinha." E nessas horas sempre houve um amigo por perto. Muitas vezes simplesmente do outro lado do telefone. Isso me tornava mais forte.

E só mesmo agora repensando nisso é que compreendo o que Jesus disse: "vou para o Pai, mas enviarei um Consolador". Enquanto esteve pessoalmente na terra, Jesus cuidou das pessoas. Mas, indo, não nos abandonou.

Esse Consolador é o que vem quando nos sentimos frágeis e move o coração das pessoas que nos amam verdadeiramente para que essas estejam do nosso lado nos ajudando a nos levantar.

Só mesmo Deus pode dar consolo, só mesmo Ele pode mostrar saídas onde só vemos muros, só mesmo Ele pode restaurar nossas vidas quebradas. E os amigos de verdade são os missionários que Deus envia. Muitos nem sabem disso, ajudam sem questionamentos, porque isso é natural na amizade. Mas a amizade é mais que algo simples e natural, amizade é algo Divino, tem as Mãos de Deus, tem perfume de Deus, tem manifestação de Deus.

As dificuldades e sofrimentos chegam muitas vezes na nossa vida para modificar nosso caminho e nos tornar pessoas melhores. Como o ouro e o cristal, somos moldados através do fogo. A custo de sofrimentos e lágrimas, vamos aprendendo a lutar até que um dia olhamos pra trás e a pessoa que existia em nós parecia uma outra.

Uma pessoa que vence na vida não é porque teve sempre tudo muito fácil e de mão beijada, mas alguém que conseguiu superar os obstáculos que encontrou pelo caminho. E ninguém é grande e forte o bastante para conseguir isso sozinho, mesmo se a força interior, a vontade de conseguir colabora em grande porcentagem. Quem vence é porque teve mais que duas mãos para alcançar as coisas e mais que duas pernas para caminhar. Quem vence é porque tem Deus atuando através dos amigos que Ele envia...

terça-feira, 13 de setembro de 2011

TEOLOGIA MORAL DA MANGA...

O velho caipira, com cara de amigo, que encontrei num banco, estava esperando para ser atendido.
Ele ia abrir uma conta. Começo de um novo ano... Novas perspectivas...
E como não podia deixar de ser, também começou ali um daqueles papos de fila de banco.
Contas, décimo-terceiro que desapareceu, problemas do Brasil, tsunami...
Será que vai chover?
Mas em determinado momento a conversa tomou outro rumo:
- Qual é então o maior problema do Brasil para ser resolvido?
E aí o representante rural, nosso querido "Mazzaropi da modernidade" falou com um tom sério demais para aquele dia:
- O maior problema do Brasil é que sobra muita manga!
Tentei entender a teoria... Fez-se silêncio e ele continuou:
- O senhor já viu como sobra manga hoje debaixo das árvores? Já percebeu como se desperdiça manga?
- Sim... Creio que todos já percebemos isto... Onde tem pé de manga, tem sobrado manga...
E aí ele continuou:
- Num país onde mendigo passa fome ao lado de um pé de manga...
Isso é um absurdo! Num país que sobra manga tem pouca criança.
Se tiver pouca criança as casas são vazias...
Ou as crianças que tem já foram educadas para acreditar que só 'ice-cream' e jujuba são sobremesas gostosas. Boa é a criança que come manga e deixa escorrer o caldo na roupa...
É sinal que a mãe vai lavar, vai dar bronca, vai se preocupar com o filho.
Se for filho tem pai... Se tiver pai e manga de sobremesa é porque a família é pobre...
Se for pobre, o pai tem que ser trabalhador...
Se for trabalhador tem que ser honesto...
Se for honesto, sabe conversar...
Se souber conversar os filhos vão compreender que refeição feliz tem manga, que é comida de criança pobre e que brinca e sobe em árvore...
Se subir em árvore, é porque tem passarinho que canta e espaço para árvore crescer e para fazer sombra... Se tiver sombra tem um banco de madeira para o pai chegar do trabalho e descansar...
Quem descansa no banco, depois do trabalho, embaixo da árvore, na sombra, comendo manga, é porque toca viola...
E com certeza tá com o pé na grama...
Quem pisa no chão e toca música tem casa feliz...
Quem é feliz e canta com o violeiro, sabe orar...
Quem sabe orar sabe amar...
Quem ama, se dedica...
Quem se dedica, ama, ora, canta e come manga, tem coração simples...
Quem tem coração assim, louva a Deus...
Quem louva a Deus não tem medo... Nada faltará porque tem fé...
Se tiver fé em Deus, vê na manga a providência divina...
Come manga, faz doce, faz suco e não deixa manga sobrar...
Se não sobra manga, tá todo mundo ocupado, de barriga cheia e feliz. Quem tá feliz...
Não reclama da vida em fila do banco...

Daí fez-se um silêncio...

Rubem Alves

O RELÓGIO...



"O relógio do coração hoje descubro,
bate noutra frequência daquele que carrego no pulso.
Marca um tempo diferente, de emoções que perduram
e que mostram o verdadeiro tempo da gente."

Mário Quintana

AMADURECIMENTO...

Aprenda a gostar de você, a cuidar de você e, principalmente, a gostar de quem também gosta de você.
A idade vai chegando e, com o passar do tempo, nossas prioridades na vida vão mudando - a vida profissional, a monografia de final de curso, as contas a pagar.
Mas uma coisa parece estar sempre presente.
A busca pela felicidade com o amor da sua vida.
Desde pequenas ficamos nos perguntando "quando será que vai chegar?
E a cada nova paquera, vez ou outra nos pegamos na dúvida "será que é ele (a)"? Como diz o meu pai:
"nessa idade tudo é definitivo", pelo menos a gente achava que era.
Cada namorado era o novo homem da sua vida.
Faziam planos, escolhiam o nome dos filhos, o lugar da lua de mel e, de repente PLAFT!
Como num passe de mágica ele desaparecia, fazendo criar mais expectativas a respeito "do próximo".
Você percebe que cair na guerra quando se termina um namoro é muito natural, mas que já não dura mais de três meses.
Agora, você procura melhor e começa a ser mais seletiva.
Procura um cara formado, trabalhador, bem resolvido, inteligente, com aquele papo que a deixa sentada
no bar o resto da noite.
Você procura por alguém que cuide de você quando está doente, que não reclame em trocar aquele churrasco
dos amigos pelo aniversário da sua avó, que jogue "imagem e ação" e se divirta como uma criança, que sorria
de felicidade quando te olha, mesmo quando está de short camiseta e chinelo.
A liberdade, ficar sem compromisso, sair sem dar satisfação já não tem o mesmo valor que tinha antes.
A gente inventa um monte de desculpas esfarrapadas, mas continuamos com a procura incessante por uma
pessoa legal, que nos complete e vice-versa.
Enquanto tivermos maquiagem e perfume, vamos a luta e haja dinheiro para manter a presença em todos os eventos da cidade: churrasco, festinhas, boates na quinta-feira.
Sem falar na diversidade que vai do Forró ao Beatles.
Mas o melhor dessa parte é se divertir com as amigas, rir até doer a barriga, fazer aqueles passinhos bregas de antigamente e curtir o som.
Olhar para o teto, cantar bem alto aquela música que você adora. Com o tempo, você vai percebendo que
para ser feliz com uma outra pessoa, você precisa, em primeiro lugar, não precisar dela.
Percebe também que aquele cara que você gosta (ou acha que gosta), e que não quer nada com você, definitivamente não é o homem da sua vida.
Você aprende a gostar de você, a cuidar de você e, principalmente, a gostar de quem também gosta de você.
O segredo é não correr atrás das borboletas e sim cuidar do jardim para que elas venham até você.
No final das contas, você vai achar não quem você estava procurando, mas quem estava procurando por você!!!!

Mário Quintana

PARA SEGUIR VIAGEM...

Cuide das suas emoções!
Elas garantem a sua estabilidade e a vida longa.
Os que sentem saudade além da medida, vivem do passado que não volta,

e não conseguem presenciar o presente, encurtam o futuro.
Mais uma forma disfarçada de suicídio...

Não guarde tantas emoções!
Extravase-as, liberte cada sentimento.
Doe-se, ame, goste, desgoste, sinta a sua raiva, mas perdoe sempre,

é mais prudente e sensato.
Aquele que carrega o ódio, leva uma cruz, sofre sempre em dobro,

pela lembrança que não se apaga,
e pela doença que se instala e a radiografia nem sempre mostra.

Cuidado com quem você briga!
Cuidado com quem você se lança ao desafio!
Cuidado com o que você fala!
Preste atenção nos seus sentimentos.

Quantas mágoas você carrega e nem percebe?
Aquela dor no estômago que nunca cessa, pode ser a ausência que você não esquece.
Aquele nódulo estranho, pode ser o luto mal resolvido.
O amargo na boca, um amor mal resolvido, o nervosismo, amor mal-vivido.

Sempre é tempo para dar um basta na solidão,

de libertar-se das correntes da ingratidão, de usar a força mágica do perdão.
Para seguir viagem, para ser mais saudável, libere as suas emoções.
Compartilhe mais, guarde menos, seja breve com as emoções que afligem,

mas eterno com o amor que tudo perdoa, liberta e faz crescer.

Paulo Roberto Gaefke

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

TODOS




Paulo Roberto Gaefke

O que depende de você, faça!
O que depende dos outros, espere.
O que lhe cabe, assuma,
o que não lhe pertence, deixe onde encontrou.

Para viver em harmonia, assuma riscos,
compromissos que possa cumprir,
tenha objetivos, não entregue a sua vida,
nem tampouco o seu destino nas mãos de ninguém.

Complete-se,
encha-se de si mesmo,
preencha-se.

Há no Universo, tanta coisa para ser feita,
e a energia ruim, que varre as ruas,
alcança primeiros os desavisados,
os que não conseguem traçar um rumo,
os dependentes, os incontroláveis.

Mexa-se!
Assuma um pedaço da grande tarefa,
reclamar por si só não resolve nada.

Que tal agora, descruzar os braços da insatisfação,
fechar os lábios que murmuram reclamação,
e trabalhar em benefício de todos?

Lembrando-se sempre que todos somos nós mesmos,
unidos com aqueles que deveríamos chamar de “irmãos”.

Há muita coisa para ser feita e não dá para ficar ai parado…

PRIMAVERA

Cecília Meireles


A primavera chegará, mesmo que ninguém mais saiba seu nome, nem acredite no calendário, nem possua jardim para recebê-la. A inclinação do sol vai marcando outras sombras; e os habitantes da mata, essas criaturas naturais que ainda circulam pelo ar e pelo chão, começam a preparar sua vida para a primavera que chega.

Finos clarins que não ouvimos devem soar por dentro da terra, nesse mundo confidencial das raízes, — e arautos sutis acordarão as cores e os perfumes e a alegria de nascer, no espírito das flores.

Há bosques de rododendros que eram verdes e já estão todos cor-de-rosa, como os palácios de Jeipur. Vozes novas de passarinhos começam a ensaiar as árias tradicionais de sua nação. Pequenas borboletas brancas e amarelas apressam-se pelos ares, — e certamente conversam: mas tão baixinho que não se entende.

Oh! Primaveras distantes, depois do branco e deserto inverno, quando as amendoeiras inauguram suas flores, alegremente, e todos os olhos procuram pelo céu o primeiro raio de sol.

Esta é uma primavera diferente, com as matas intactas, as árvores cobertas de folhas, — e só os poetas, entre os humanos, sabem que uma Deusa chega, coroada de flores, com vestidos bordados de flores, com os braços carregados de flores, e vem dançar neste mundo cálido, de incessante luz.

Mas é certo que a primavera chega. É certo que a vida não se esquece, e a terra maternalmente se enfeita para as festas da sua perpetuação.

Algum dia, talvez, nada mais vai ser assim. Algum dia, talvez, os homens terão a primavera que desejarem, no momento que quiserem, independentes deste ritmo, desta ordem, deste movimento do céu. E os pássaros serão outros, com outros cantos e outros hábitos, — e os ouvidos que por acaso os ouvirem não terão nada mais com tudo aquilo que, outrora se entendeu e amou.

Enquanto há primavera, esta primavera natural, prestemos atenção ao sussurro dos passarinhos novos, que dão beijinhos para o ar azul. Escutemos estas vozes que andam nas árvores, caminhemos por estas estradas que ainda conservam seus sentimentos antigos: lentamente estão sendo tecidos os manacás roxos e brancos; e a eufórbia se vai tornando pulquérrima, em cada coroa vermelha que desdobra. Os casulos brancos das gardênias ainda estão sendo enrolados em redor do perfume. E flores agrestes acordam com suas roupas de chita multicor.

Tudo isto para brilhar um instante, apenas, para ser lançado ao vento, — por fidelidade à obscura semente, ao que vem, na rotação da eternidade. Saudemos a primavera, dona da vida — e efêmera.