sábado, 18 de abril de 2015

A FOME DA ALMA


A alma tem fome de sensações e emoções.
Mas não é de qualquer tipo de emoção.
A alma deseja ser tocada por delicadezas,
pequenas lembranças e sutilezas.
Detesta emoções banais,
excessivamente carnais.
Por isso, para alimentar a alma,
alimente-se de coisas boas
da gratuidade dos abraços sinceros;
dos beijos carinhos das crianças,
ou do beijo apaixonado de quem amamos.

Tudo sacia, tudo preenche,
mas, se tem algo que faz a alma transbordar,
é a possibilidade de servir,
de ser útil de verdade.
Quer matar a fome da alma?
Pratique a caridade.


Paulo Roberto Gaefke


domingo, 12 de abril de 2015

A ARTE DO DESAPEGO


Muitos vivenciam o amor como um rasgo a que a alma se submete intencionalmente para exigir que a mão do amado a costure. O problema é que a mão do outro nem sempre está disponível para esse trabalho: a alma sangra, dói, e os rasgos se expandem… A dor, quando bem resolvida, pode ser um prenúncio de beleza. Mas, para que o belo de fato advenha, é preciso viver a dor, senti-la, tocá-la, integrar-se a ela, e transmutá-la, sabedores de que o vivenciar a dor também é parte do exercício de amor.

Já tive muitos castelos desmoronados na poeira dos dias. Quem não os teve? E a dor, nesse caso, é inevitável. Em nossa alma aprendiz, amar é desejar estar ao lado do outro, dentro do outro. É querer ser o outro sem sair de si mesmo. É construir uma redoma de sonho e ali inserir o amado, sob a eterna e vigilante proteção dos nossos olhos. E queremos que o outro caiba exatamente no nosso sonho e viva o nosso projeto de existência. Que ele esteja no cenário que construímos e encene o papel que lhe escrevemos.

E, num repente, algum novo vento nos sopra e mostra que o outro não é exatamente o aquele a quem julgamos amar. Percebemos que ele tem segredos e mistérios maiores que pensávamos e ficamos perplexos ao perceber que ele tem caminhos traçados e que quer percorrê-los, muitas vezes, sem nós. Perdemos a voz ao saber que a alma do outro é hóspede e hospedeira de outras almas. E as nossas pernas tremem ao constatar que a redoma era ilusão. Que todo o castelo de amor era ilusório. E a dor chega e castiga e fustiga a alma com cem mil acusações.

O que nos sangra, num momento como esse, é a obrigação de desamar. Mas será que isso existe? Os poetas, há muito, já apregoaram que o amor é sempre “para sempre”. Questionaremos as verdades poéticas? Banalizaremos o amor? Faremos dele um bibelô barato e quebrável destinado a adornar, por breves dias, as estantes da nossa alma?

Ocorre que somos ainda aprendizes da arte do eterno. O amor não reside senão no desejo da plenitude do outro. Ele não se esmera a não ser no respeito ao outro. Ele não pulsa a não ser para o querer o bem e sonha que o outro, pássaro livre em perfeição de voo, possa vislumbrar, dos cumes de si mesmo, os mais belos sentimentos e paisagens da terra.

E assim, quando o outro não mais deseja estar ao nosso lado, isso nos fere e sangra, mas o que nos massacra não é o outro. É desejo egoístico de aprisionar um espírito que também, assim como nós, tem sede de infinitos.

Tenho comigo que o que mais dói é a obrigatoriedade que nos impomos, quando o castelo desmorona, de desamar o outro. E embora talvez não o tenhamos amado de fato, fizemos um esboço de amor e é desorientador apagá-lo. Desamar é doloroso demais, porque o desfazimento do amor é contrário à nossa natureza etérea, espiritual, eterna.

Devemos, sim, exercitar o desapego; não o desamor. Desejar a liberdade, a integralidade, a plenitude do outro. Compreender que o que dói não é o amor não correspondido, mas a quebra das correntes (talvez até de ouro) com que tentávamos prender alguém. Apenas quando soubermos apreciar com encantamento a liberdade, seja ela nossa ou de um ser amado, teremos conhecido a face invisível e invencível de um amor verdadeiro.

E a alma, outrora rasgada, fará das cicatrizes uma arte emoldurada e rebordada de vida, na certeza de que toda a dor, bem lá no fundo, labora a nosso favor.

Nara Rúbia Ribeiro

sábado, 11 de abril de 2015

PERDOE-ME


Perdoe-me,
pelas vezes em que tentei achar um caminho e me perdi de você.
Perdoe-me,
pelas vezes em que deixei de dizer uma verdade e me escondi na mentira.
Perdoe-me,
por ter acreditado que era amor, quando era a fúria da paixão me cegando.
Perdoe-me,
por ter dado a palavra e não ter sequer aparecido para me desculpar.
Perdoe-me,
por julgar antecipadamente o que não aconteceu e ainda ofender sem razão.
Perdoe-me,
pelo meu posicionamento duro, ao falar dos seus defeitos.
Perdoe-me, 
pela falta de uma palavra doce, para elogiar suas qualidades.
Perdoe-me,
por ter pensando só em mim,
por não ter ido até o fim.
Por me esconder assim...

Perdoe-me, pela fraqueza disfarçada de franqueza,
das vezes em que até o abraço eu deixei de dar,
por não ter sensibilidade e por não saber amar.

Perdoe-me por fim, por querer ser e ter além do necessário,
por me esquecer de que precisamos de tão pouco, do básico.

Por "ser humano" demais, e fadado aos erros e enganos.
Por demorar para aprender,
que sem você eu não consigo viver,
perdoe-me!

(Eu fiz para Jesus, mas pode oferecer para alguém.)

Paulo Roberto Gaefke