terça-feira, 29 de outubro de 2013

HÁ DE SE CUIDAR DA AMIZADE E DO AMOR





Leonardo Boff


A amizade e o amor constituem as relações maiores e mais realizadores que o ser humano, homem e mulher, pode  experimentar e desfrutar. Mesmo o místico mais ardente só consegue uma fusão com a divindade através do caminho do amor. No dizer de São João da Cruz, trata-se da experiência da “a amada(a alma) no Amado transformada”. 


Há vasta literatura sobre estas duas experiências de base. Aqui restringimo-nos ao mínimo. A amizade é aquela relação que nasce de uma ignota afinidade, de uma simpatia de todo inexplicável, de uma proximidade afetuosa para com a outra pessoa. Entre os amigos e amigas se cria uma como que comunidade de destino. A amizade vive do desinteresse, da confiança e da lealdade. A amizade possui raízes tão profundas que, mesmo passados muitos anos, ao reencontrarem-se os amigos e amigas, os tempos se anulam e se reatam os laços e até  se recordam da última conversa havida há muito tempo.


Cuidar da amizade é preocupar-se com a vida, as penas e as alegrias do amigo e da amiga. É oferecer-lhe um ombro quando a vulnerabilidade o visita e o desconsolo lhe oculta as estrelas-guias. É no sofrimento e no fracasso existencial, profissional ou amoroso que se comprovam os verdadeiros amigos e amigas. Eles são como uma torre fortíssima que defende  o frágil castelo de nossas vidas peregrinas.


A relação mais profunda é a experiência do amor. Ela  traz as mais felizes realizações ou as mais dolorosas frustrações. Nada é mais misterioso do que o amor. Ele vive do encontro entre duas pessoas que um dia cruzarem seus caminhos, se descobriram no olhar e na presença e viram nascer um sentimento de enamoramento, de atração, de vontade de estar junto até resolverem fundir as vidas, unir os destinos, compartir as fragilidades e as benquerenças da vida. Nada é comparável à felicidade de amar e de ser amado.  E nada  há de mais desolador, nas palavras do poeta Ferreira Gullar, do que não poder dar amor a quem se ama.


Todos esses  valores, por serem os mais preciosos, são também os mais frágeis  porque  mais expostos às contradições da humana existência.


Cada qual é portador de luz e de sombras, de histórias familiares e pessoais diferentes, cujas raízes alcançam arquétipos ancestrais, marcados por experiências bem sucedidas ou trágicas que deixaram marcas na memória genética de cada um.


O amor é uma arte combinatória de todos estes fatores, feita com sutileza que demanda capacidade de compreensão, de renúncia, de paciência e de perdão e, ao mesmo tempo, comporta o desfrute  comum do encontro amoroso, da intimidade sexual, da entrega confiante de um ao outro. A experiência do amor serviu de base para entendermos a natureza de Deus: Ele é amor essencial e incondicional.


Mas o amor sozinho não  basta. Por isso São Paulo em seu famoso hino ao amor, elenca os acólitos do amor sem os quais ele não consegue subsistir e irradiar. O amor tem que ser paciente, benigno, não ser ciumento, nem gabar-se, nem ensoberbecer-se, não procurar seus interesses, não se ressentir do mal…o amor tudo sofre, tudo crê, tudo espera e tudo suporta…o amor nunca se acaba(1Cor 13, 4-7). Cuidar destes acompanhantes do amor é fornecer o húmus necessário para que o amor seja sempre vivo e não morra pela indiferença. O que se opõe ao amor não é o ódio mas a indiferença.


Quanto mais alguém é capaz de uma entrega total, maior e mais forte é o amor. Tal entrega supõe extrema coragem, uma experiência de morte pois não retém nada para si e mergulha totalmente no outro. O homem possui especial dificuldade para esta atitude extrema, talvez pela herança de machismo, patriarcalismo e racionalismo de séculos que carrega dentro de si e que lhe  limita a capacidade desta  confiança extrema.
 

A mulher é mais radical: vai até o extremo da entrega no amor, sem resto e sem retenção. Por isso seu amor é mais pleno e realizador e, quando se frustra, a vida revela contornos de tragédia e de um vazio abissal.


O segredo maior para cuidar do amor reside no singelo cuidado da ternura.  A ternura vive de gentileza, de pequenos gestos que revelam o carinho, de sacramentos tangíveis, como recolher uma concha na praia e levá-la à pessoa amada e dizer-lhe que, naquele momento, pensou carinhosamente nela.


Tais “banalidades” tem um peso maior que a mais preciosa joia. Assim como uma estrela não brilha sem uma atmosfera ao seu redor, da mesma forma, o amor não vive  sem um aura de enternecimento, de afeto e de cuidado.


Amor e cuidado formam um casal inseparável. Se houver um divórcio entre eles, ou um ou outro morre de solidão. O amor e o  cuidado constituem uma arte. Tudo o que cuidamos também amamos. E tudo o que amamos também cuidamos.


Tudo o que vive tem que ser alimentado e sustentado. O mesmo  vale para o amor e para o cuidado. O amor e  o cuidado se alimentam da afetuosa preocupação de um para com o outro. A dor e a alegria de um é a alegria e a dor do outro.


Para fortalecer a fragilidade natural do amor precisamos de Alguém maior, suave e amoroso, a quem sempre podemos invocar. Daí a importância dos que se amam, de reservarem algum tempo de abertura e de comunhão com esse Maior, cuja natureza é de amor, aquele amor, que segundo Dante Alignieri da Divina Comédia “move o céu e as outras estrelas”  e nós acrescentamos: que comove os nossos corações.

segunda-feira, 28 de outubro de 2013

SONHO

"O sonho encheu a noite
Extravasou pro meu dia
Encheu minha vida
E é dele que eu vou viver
Porque sonho não morre"


Adélia Prado

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

ENCANTAR-SE

“Acho que é preciso a gente se encantar de novo com essas belezas simples e grandiosas.”
(
Ana Jácomo)

MINHA ANGÚSTIA



“Minha angústia nada tem a ver com tristeza e depressão. Pelo contrário, me angustio por ver que posso ir além, mas nem sempre consigo por insegurança. Minha angústia tem a ver com meu desejo de infinito, de crescimento, de ser mais, de fazer diferença... minha angústia tem a ver com meu desejo de viver, e de fazer com minha vida diferença na vida de outras pessoas, diferença num mundo que precisa de pessoas que ainda acreditem em sonhos, e que sabem que sonhos não envelhecem.
(Ricardo Alexandre Ferreira)

terça-feira, 22 de outubro de 2013

E SE...




E se não quisermos, não pudermos, não soubermos, com palavras, nos dizer um pouco um para o outro, senta ao meu lado assim mesmo. Deixa os nossos olhos se encontrarem vez ou outra até nascer aquele sorriso bom que acontece quando a vida da gente se sente olhada com amor. Senta apenas ao meu lado e deixa o meu silêncio conversar com o seu. Às vezes, gente nem precisa mesmo de palavras.

Ana Jácomo

domingo, 20 de outubro de 2013

PORTA ENTREABERTA





“Não vou deixar a porta entreaberta. Escancare-a ou bata-a de vez. Porque pelos vãos, brechas e fendas... passam semiventos, meias verdades e muita insensatez.”

(Cecília Meireles)

A ARTE DE AMAR E DE SER LUCIDO



A arte de amar e de ser lucido/a

O ser humano ama com a totalidade do ser corpo, alma e espírito. Tem raízes no processo evolutivo que nos preparou até o momento maior de amar com consciência e liberdade. Os gregos distinguiram o amor-eros que exprime a carência que temos uns dos outros e o amorfilia pelo qual sentimos a alegria da presença do outro. Os cristãos trouxeram a mais o amor-agápe que inclui o amor do outro por ele mesmo até a dimensão heróica do perdão. E a lucidez? Implica exercício arguto de pensar. Livra-nos do fanatismo, da superficialidade, do fundamentalismo. Perceber em toda realidade humana a dupla valência positiva e negativa para afirmar a primeira e negar a segunda e assim caminhar para frente. Gera a serenidade do espírito no meio ao torvelinho da existência. Eterno aprendizado que se concretiza na sabedoria. Aprender a amar e a ser lúcido/a faz-nos humanos, compreensivos e serenos.

Prof. Dr. João Batista Libanio

NOTHING COMPARES TO YOU

THE WALL - Roger Waters + David Gilmour

quarta-feira, 16 de outubro de 2013

DIALÉTICA



É claro que a vida é boa
E a alegria, a única indizível emoção
É claro que te acho linda
Em ti bendigo o amor das coisas simples
É claro que te amo
E tenho tudo para ser feliz
Mas acontece que eu sou triste...

(Vinícius de Moraes)

sábado, 12 de outubro de 2013

NÃO QUERO...

 
"Não quero adultos nem chatos.
Quero-os metade infância e outra metade velhice!
Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto; 
e velhos, para que nunca tenham pressa."
Oscar Wilde

sexta-feira, 11 de outubro de 2013

FORÇA DO TEMPO

"Acredito na força do tempo. Entendo que ele não tem o poder de curar feridas, mas a capacidade de torná-las administráveis. Mas, eis um limite do tempo... seu poder de ajudar-nos esbarra no desejo real de nos reconciliarmos com nossa história e olhar com esperança para o futuro. Perder-se nas fantasias de futuro ou fixar-se obsessivamente no passado, nos torna infelizes, por não conseguirmos dar o melhor de nós no presente. Bom é olhar a vida com gratidão, semear esperanças no caminho, e aí sim, deixar que o tempo se encarregue de fazer nascer o que vale a pena e morrer o que já não tem sentido."
(Pe. Ricardo Alexandre Ferreira)

quinta-feira, 3 de outubro de 2013

COISAS BOAS

 
"Que os beijos nos tragam a calma, que o afeto nos cure a alma, que o carinho permaneça, que a gentileza prevaleça e que as coisas boas se multipliquem."
(Camila Heloise)

É FÁCIL TROCAR AS PALAVRAS

 
 
É fácil trocar as palavras,
difícil é interpretar os silêncios!
É fácil caminhar lado a lado,
difícil é saber como se encontrar!
É fácil beijar o rosto,
difícil é chegar ao coração!
É fácil apertar as mãos,
difícil é reter o calor!
É fácil sentir o amor,
difícil é conter sua torrente!

Como é por dentro outra pessoa?
Quem é que o saberá sonhar?
A alma de outrem é outro universo
com que não há comunicação possível,
com que não há verdadeiro entendimento.

Nada sabemos da alma
senão da nossa;
as dos outros são olhares,
são gestos, são palavras,
com a suposição
de qualquer semelhança no fundo.
 
Fernando Pessoa
 
 

quarta-feira, 2 de outubro de 2013

DÁ PRA ESCOLHER...

"Todo dia eu procuro me lembrar: dá pra escolher. Não temos controle sobre tudo, mas dá pra escolher entre ter amigos ou viver recluso, dá pra escolher entre privilegiar um amor ou ter vários casos superficiais, dá pra escolher entre levar a vida com bom-humor ou levar a vida na ponta da faca. Se a escolha será acertada, aí já é outro assunto, o futuro vai dizer."
(Martha Medeiros)