“Em maior ou
menor grau, somos seres que esperam. Que desejam e fazem planos. Que acreditam
ou têm fé no que virá. Em diferentes proporções, somos pessoas que vivem não
somente no hoje, mas também no amanhã. E, querendo ou não, nosso futuro ficou
incerto, nebuloso; foi, de alguma forma, cancelado. E mesmo que estejamos
tirando de letra esse período, há momentos em que a impossibilidade – de
qualquer coisa – nos aflige.
Se antes
podíamos ir e vir, com a quarentena muita coisa se reduziu ao espaço da nossa
casa, e grande parte da nossa conexão com o mundo ficou restrita à tela do
celular. Assim, toda ansiedade, angústia e excesso de expectativas que tínhamos
antes, ganhou proporções ainda mais agudas com o novo arranjo dos dias.
No meio
disso, as relações que temos uns com os outros – mas principalmente com aqueles
que nos interessam – se somou à incerteza do momento e tornou-se ainda mais
difícil, ganhando contornos nem sempre explícitos, nem sempre claros, muitas
vezes confusos e incompreensíveis.
Não é errado
você querer se sentir bem, sem angústia ou ansiedade. Não é ruim você desejar
que sua expectativa em algo se resolva, e que você possa adquirir um tipo de
prazer que vai dar novo sentido ao seu dia, à sua semana. Porém, muitas vezes
esse momentâneo prazer será seguido por uma gigantesca frustração que pode lhe
arrastar como uma onda desoladora.
Às vezes é
preciso abrir mão do prazer imediato, que é o prazer que vou ter em mandar
aquela mensagem ou visualizar aquele story… e entender que depois pode vir uma
ressaca moral ainda maior, gerada pela falta de reciprocidade.
Os sinais
existem, e a gente sabe disso. Porém, muitas vezes preferimos não enxergar. Ou
enxergamos, mas ainda não estamos prontos para aceitar. Pois criamos
expectativas. E mesmo dizendo para nós mesmos que não esperamos nada, lá dentro
ainda há uma vozinha de esperança. […]
Muitas vezes
nos contentamos com migalhinhas afetivas porque simplesmente estamos tão
angustiados com nossas incertezas que acreditamos que aquele prazer em receber
um “bom dia” seco e sem graça pode aliviar um pouco nossa inquietação. Mas não
alivia. Na verdade, só piora.
Às vezes
precisa doer de uma vez para parar de doer. Contentar-se com migalhinhas
afetivas, com respostas monossilábicas à mensagens elaboradas, com falta de
posicionamento da outra pessoa, com falta de conexão e conversas mais
abrangentes, além de um simples “bom dia” ou “boa noite”… é sofrer de forma
parceladinha. Às vezes é preferível ter um sofrimento total, com uma boa dose
de tristeza e luto, do que ficar preso à uma dor a conta gotas, que não nos
liberta para seguir em frente.
Pare de
falar que não vai criar expectativas. Só de falar isso, você já as criou.
Talvez fosse mais honesto encarar que você espera sim, que você aguarda uma resposta
sim, que você deseja mais desse alguém que só responde suas mensagens, mas
nunca, em hipótese nenhuma, conversa realmente com você.
Admitir que
isso dói, que isso não te faz bem, que isso aumenta sua angústia ao invés de
aliviá-la é o primeiro passo para arcar com as consequências das expectativas
que você cria. Respeite sua tristeza, sofra total e não parceladamente, e
decida, de uma vez por todas, se isso lhe basta.”
(Fabíola
Simões)