sábado, 24 de outubro de 2020

REENCONTRO

 

Eu vim aqui me buscar. E aqui parecia ser longe, muito longe do lugar onde eu estava, o medo costuma ver as distâncias com lente de aumento.

Vim aqui me buscar porque a insatisfação me perguntava incontáveis vezes o que eu iria fazer para transformá-la e chegou um momento em que eu não consegui mais lhe dizer simplesmente que eu não sabia.

Vim aqui me buscar porque cansei de fazer de conta que eu não tinha nenhuma responsabilidade com relação ao padrão repetitivo da maioria das circunstâncias difíceis que eu vivenciava.

Vim aqui me buscar porque a vida se tornou tediosa demais. Opaca demais. Cansativa demais. Encolhida.

Vim aqui me buscar porque, para onde quer que eu olhasse, eu não me encontrava. Porque sentia uma saudade tão grande que chegava a doer e, embora persistisse em acreditar que ela reclamava de outras ausências, a verdade é que o tempo inteirinho ela falava da minha falta de mim.

Vim aqui me buscar porque percebi que estava muito distante e que a prioridade era eu me trazer de volta. Isso, se quisesse experimentar contentamento. Se quisesse criar espaço, depois de tanto aperto. Se quisesse sentir o conforto bom da leveza, depois de tanto peso suportado. Se quisesse crescer no amor.

Vim aqui me buscar, com medo e coragem. Com toda a entrega que me era possível. Com a humildade de quem descobre se conhecer menos do que supunha e com o claro propósito de se conhecer mais.

Vim aqui me buscar para varrer entulhos. Passar a limpo alguns rascunhos. Resgatar o viço do olhar. Trocar de bem com a vida. Rir com Deus, outra vez.

Vim aqui me buscar para não me contentar com a mesmice. Para dizer minhas flores. Para não me surpreender ao me flagrar feliz. Para ser parecida comigo. Para me sentir em casa, de novo.

Vim aqui me buscar. Aqui, no meu coração.

(Ana Jácomo)

sexta-feira, 4 de setembro de 2020

DÊ VOZ



“Engole o choro. Engole sapo. Cala a boca. Cala o peito. Mas o corpo fala, e como fala. Fala a ponta dos dedos batendo na mesa. Falam os pés inquietos na cama. Fala a dor de cabeça. Fala a gastrite, o refluxo, a ansiedade. Fala o nó na garganta atravessado. Fala a angústia, fala a ruga na testa. Fala a insônia, o sono demasiado.
Você se cala, mas o falatório interno começa. As pessoas adoecem porque cultivam e guardam as coisas não digeridas dentro de seus corações. O normal do ser humano seria a comunicação e conseguir dizer o que está sentindo. Mas nem todos se habilitam para esse difícil exercício. Nem sempre digerimos bem aquelas pequenas coisas, como mensagens mal respondidas, as palavras que machucam...
Você finge que não ouviu, engole e tudo isso vai se acumulando até que um dia enche. Esses pequenos fatos indigestos percorrem a garganta, entram no estômago, invadem o peito, e se deixarmos, calará nossa boca e nossa paz. O importante é não deixar acumular ou achar que simplesmente vai aliviar com o passar dos dias. O tempo até tem um papel importante, mas não resolve tudo.
Tentar mostrar que tudo sempre está bem requer muita energia, o desgaste emocional é grande. Não dá pra engolir tudo e dizer amém! Eu sei. Também não dá pra cometer sincericídios por aí e sair vomitando as coisas entaladas na sua garganta. Mas dá para se expressar.
Tem hora que o sentimento pede pra ser dito, entendido, descodificado, traduzido. Tudo que ele quer é ser exorcizado pela palavra ou pela via que lhe cabe melhor. Expressar tranquiliza a dor. Dor não é pra sentir pra sempre. Dor é vírgula.
Então faz uma carta, um poema, um livro. Canta uma música. Pega as sapatilhas, sapateia. Faz uma aquarela. Faz uma vida. Faz piada, faz texto, faz quadro, faz encontro com amigos. Faz corrida no parque. Fala pro seu analista, fala para Deus, para o universo... se pinta de artista. Conversa sozinho, papeia com seu cachorro, solta um grito pro céu, mas não se cale.
Pois “se você engolir tudo que sente, no final você se afoga”."
Ruth Borges (Revista Bula)

TEMPO TEMPO



Aproveitar o tempo... É isso aí. Porque o Tempo é a própria Vida.

O que precisamos para viver bem? É saber usá-lo, não na correria, não o desperdiçando, mas dando sentido a ele. Nele, construímos nossas vidas
Cada instante, cada momento de nossa existência tem desdobramentos, desafios, consequências, que influenciam nossa caminhada por aqui e lá na eternidade, não é mesmo? E é por aí que se vive. Não sou muito de “matar o tempo”, porque deixo de viver. E eu quero viver bem, segundo Ele.
Sabe? O Tempo/Vida nos dá oportunidades e, da melhor maneira possível, devemos agarrá-las, abraçá-las, para crescer, para não ficarmos estagnados. E o amor... nos ajuda, nos impulsiona, nos faz crescer, dá um sentido maior ao Tempo/Vida.
Não jogo fora meu tempo não, ele tem limites aqui na terra. Não é mesmo?
Bem... pelo prisma da fé, da espiritualidade, o Tempo de Deus é diferente do nosso, mas este – o nosso - ganha sentido maior se acolhermos o d’Ele.
(Nair Pimenta)

terça-feira, 11 de agosto de 2020

“VIVER É UM RASGAR-SE E REMENDAR-SE”


   Meus joelhos trazem marcas de uma infância bem vivida. Há o tombo da bicicleta na ladeira da igreja, o escorregão no barranco atrás da casa da vó, a queda brusca na travessia da rua de paralelepípedos do trabalho do pai.

Olho para minhas cicatrizes e me lembro da dor que ficou lá atrás, junto com as histórias que desconstruí e voltei a escrever com uma caligrafia mais amadurecida.

Tenho descoberto que, assim como Guimarães Rosa poetizou, “Viver é um rasgar-se e remendar-se”. 

Talvez ele já soubesse que a vida é feita de desconstruções e reconstruções, e que, ainda que nossas bainhas desfeitas nos causem tanta dor, outros arranjos serão possíveis no seu tempo, mostrando que jamais seremos os mesmos, mas isso também significa crescer.

Estar “remendado” pela vida não nos torna mais tristes ou piores. Ao contrário, estar remendado quer dizer que evoluímos, que conseguimos lidar com nossos abismos e nos reerguemos, que ralamos a alma no chão de nossas aflições e nos tornamos mais fortes e corajosos.

Algumas cicatrizes são imperceptíveis aos olhos, mas nem por isso doem menos. Porém, também trazem o tempo do amadurecimento, tempo em que a inconstância e a agitação da imaturidade dão lugar ao silêncio e à serenidade da calmaria.

Viver é dar novo sentido ao que vamos nos tornando com o passar do tempo. Pois o que somos hoje não é o mesmo que ontem, e nem será o mesmo que amanhã. Nos descosturamos e remendamos incessantemente, fazendo novas escolhas, renunciando ao que não serve mais, viajando para um lugar diferente, assistindo a algum filme ou documentário interessante, lendo algum texto num livro antigo ou na internet, batendo papo com aquele amigo inteligente, experimentando um novo sabor, ouvindo uma boa música.

Crescemos, nos despedimos, nos vestimos e nos despimos. É preciso ser feliz com aquilo que nos pertence, com a colcha de retalhos que nos tornamos, com as pontas descosturadas e as novas emendas que compõem nosso tecido.

A gente muda e nosso mundo se transforma. É preciso reaprender a lidar com o que nos tornamos depois que somos descosturados. É preciso encontrar sentido nas novas realidades que agora fazem parte do nosso mundo e de nós mesmos. Aprender a conviver com a falta, com o silêncio, mas também com a chegada de novas alegrias e surpresas.

Ainda me lembro dos tombos memoráveis da minha infância. Foram eles que me ensinaram a me resguardar do perigo e andar mais cuidadosa pela vida. Me rasgaram a pele, sangraram e causaram dor. Hoje são só sinais de um tempo bom que não existe mais. Cresci, acumulei conhecimento e alguma serenidade, e hoje tento passar ao meu filho um vestígio da minha experiência. Porém, sei que antes ele precisará rasgar-se e descosturar-se para então reconhecer seu espaço e seu caminho.

Ninguém pode nos poupar do que está reservado para nós. As pedras, desafios e alegrias de nosso caminho são só nossos, e os remendos adquiridos no decorrer do tempo, também…

(Fabíola Simões)

sábado, 8 de agosto de 2020

PEDRO CASALDÁLIGA NOS DEIXA. PEDRO PERMANECE.

COMPARTILHANDO

"O coração de Pedro Casaldáliga, catalão do mundo, deixou de bater esta manhã. Católico ecumênico, devoto de todas as missões de Justiça e Liberdade, bispo emérito de São Félix do Araguaia (MT), Pedro fez sua travessia.
O coração de Pedro, pedra e flor, poeta e profeta, "combatente derrotado de causas invencíveis" - como ele gostava de dizer -, continuará pulsando, a inspirar a caminhada dos que virão depois dele. E depois de nós, seus camaradas de fé, sonhos e lutas.
Nas vezes em que encontrei com Pedro - não foram muitas, infelizmente - eu brincava: "você devia ser nosso papa!". Ele respondia no mesmo tom, com seu humor bom: "por isso mesmo, por gente como você querer, nunca vou ser; além do mais, não tenho vocação para príncipe".
Pedro via em Francisco uma benção, uma tentativa de retorno ao cristianismo das catacumbas, dos primórdios. Para Pedro, o coerente, ser cristão era ser despojado: "nada possuir, nada carregar, nada pedir, nada calar e, sobretudo, nada matar!".
É simbólico de sua solidariedade visceral com os oprimidos que o corpo de Pedro tenha se apagado no dia em que, no Brasil, chegamos às 100 mil trágicas mortes pela Covid. Pedro está ali, luz nas trevas, confortando os aflitos, denunciando a insensibilidade dos podres poderes - como fez durante toda sua vida.
Pedro bispo do anel de tucum, do báculo que era um cajado, do chapéu de palha como mitra. Pedro bispo dos comuns, do calcinado e imenso chão brasileiro, das águas profundas do Araguaia.
Assim pregou, assim viveu. Por isso a morte, quando chegou há pouco, querendo algo de seu, nada encontrou para tomar. Assim a morte foi vencida por Pedro, pedra angular.
Muito mais densas do que as nossas, as palavras vividas de Pedro continuarão a nos orientar e animar - mistérios da fé:
"Para descansar/ eu quero só esta cruz de pau/ como chuva e sol/ Estes sete palmos/ e a Ressurreição".
Pedro pediu para ser sepultado no cemitério dos Karajás, na sua terra de adoção, à beira do rio e à sombra de um pé de pequi, entre um peão e uma prostituta. Ele sabia que esses nos precederão no Reino dos Céus (Mt, 21, 31).
Pedro, amigo fiel do Jesus dos pobres, fragmento de Deus na terra, está plenificado no Corpo Místico, Cósmico e Eterno do Todo Poderoso Amor, a quem ele tanto serviu.
Glória, gracias!"
(Chico Alencar)

segunda-feira, 25 de maio de 2020

A SOMA DE TODOS OS AFETOS


“Em maior ou menor grau, somos seres que esperam. Que desejam e fazem planos. Que acreditam ou têm fé no que virá. Em diferentes proporções, somos pessoas que vivem não somente no hoje, mas também no amanhã. E, querendo ou não, nosso futuro ficou incerto, nebuloso; foi, de alguma forma, cancelado. E mesmo que estejamos tirando de letra esse período, há momentos em que a impossibilidade – de qualquer coisa – nos aflige.

Se antes podíamos ir e vir, com a quarentena muita coisa se reduziu ao espaço da nossa casa, e grande parte da nossa conexão com o mundo ficou restrita à tela do celular. Assim, toda ansiedade, angústia e excesso de expectativas que tínhamos antes, ganhou proporções ainda mais agudas com o novo arranjo dos dias.

No meio disso, as relações que temos uns com os outros – mas principalmente com aqueles que nos interessam – se somou à incerteza do momento e tornou-se ainda mais difícil, ganhando contornos nem sempre explícitos, nem sempre claros, muitas vezes confusos e incompreensíveis.

Não é errado você querer se sentir bem, sem angústia ou ansiedade. Não é ruim você desejar que sua expectativa em algo se resolva, e que você possa adquirir um tipo de prazer que vai dar novo sentido ao seu dia, à sua semana. Porém, muitas vezes esse momentâneo prazer será seguido por uma gigantesca frustração que pode lhe arrastar como uma onda desoladora.

Às vezes é preciso abrir mão do prazer imediato, que é o prazer que vou ter em mandar aquela mensagem ou visualizar aquele story… e entender que depois pode vir uma ressaca moral ainda maior, gerada pela falta de reciprocidade.

Os sinais existem, e a gente sabe disso. Porém, muitas vezes preferimos não enxergar. Ou enxergamos, mas ainda não estamos prontos para aceitar. Pois criamos expectativas. E mesmo dizendo para nós mesmos que não esperamos nada, lá dentro ainda há uma vozinha de esperança. […]

Muitas vezes nos contentamos com migalhinhas afetivas porque simplesmente estamos tão angustiados com nossas incertezas que acreditamos que aquele prazer em receber um “bom dia” seco e sem graça pode aliviar um pouco nossa inquietação. Mas não alivia. Na verdade, só piora.

Às vezes precisa doer de uma vez para parar de doer. Contentar-se com migalhinhas afetivas, com respostas monossilábicas à mensagens elaboradas, com falta de posicionamento da outra pessoa, com falta de conexão e conversas mais abrangentes, além de um simples “bom dia” ou “boa noite”… é sofrer de forma parceladinha. Às vezes é preferível ter um sofrimento total, com uma boa dose de tristeza e luto, do que ficar preso à uma dor a conta gotas, que não nos liberta para seguir em frente.

Pare de falar que não vai criar expectativas. Só de falar isso, você já as criou. Talvez fosse mais honesto encarar que você espera sim, que você aguarda uma resposta sim, que você deseja mais desse alguém que só responde suas mensagens, mas nunca, em hipótese nenhuma, conversa realmente com você.

Admitir que isso dói, que isso não te faz bem, que isso aumenta sua angústia ao invés de aliviá-la é o primeiro passo para arcar com as consequências das expectativas que você cria. Respeite sua tristeza, sofra total e não parceladamente, e decida, de uma vez por todas, se isso lhe basta.”
(Fabíola Simões)

segunda-feira, 27 de abril de 2020

VOCÊ NÃO PODE TER SEMPRE O QUE QUER


 A quarentena surpreendeu a todos. Havíamos recém entrado em março, quando 2020 começaria pra valer, mas em vez de dar início ao cumprimento das resoluções de fim de ano, fomos condenados à prisão domiciliar, mesmo não tendo cometido crime algum. Paciência: ser livre se tornou um delito. Parece injusto, mas chegou a hora de entender que não podemos ter sempre o que queremos. 
 Gostaríamos muito de rever os amigos e parentes, fazer a viagem planejada, torcer pelo nosso time, ir ao pilates, ao cabeleireiro, tomar uma caipirinha com o crush, comparecer às formaturas e casamentos. Gostaríamos de ver as lojas abertas, o comércio aquecido, os índices da bolsa subindo, o dólar baixando.
 Gostaríamos de acreditar que todos os líderes do mundo estão errados e só o nosso presidente está certo. Gostaríamos de ter alguém lúcido e responsável no comando do país. Mas, infelizmente, you can´t always get what you want. Não por acaso, foi essa a música escolhida pelos Rolling Stones em sua participação no comovente One World/Together at home, evento transmitido ao vivo em 18 de abril, onde diversos artistas, personalidades e profissionais da saúde uniram-se online, cada um em sua casa, para lembrar que somos todos absolutamente iguais diante de uma ameaça, e que o distanciamento social é a saída, mesmo  que não seja o que a gente quer.   
 Seu desejo é uma ordem? Não mesmo. Frase cancelada, como canceladas foram as peças de teatro, os jogos de futebol, as liquidações, o happy hour depois do expediente – e o próprio expediente. Aposentadoria antes da hora, por tempo indefinido. Qual será o legado, o que aprenderemos desta experiência? 
 Que consumir por consumir é uma doença também. Que o céu está mais azul, a vegetação mais verde e o ar mais puro: não somos tão imprescindíveis, a natureza agradece nossa reclusão. Que há muitas maneiras de se comemorar um aniversário, mesmo sozinho em casa: vizinhos cantam em janelas próximas, amigos deixam flores na portaria do prédio, organiza-se uma reunião por aplicativo. Emoção genuína, festa inimitável. E pensar que há quem gaste uma fortuna com decoração de ambiente, DJ da moda e champanhe francês para 500 convidados, e ainda assim não consegue se sentir amado.       
 Já tivemos, poucos anos atrás, uma greve de caminhoneiros que serviu de ensaio do apocalipse. Pois já não é mais ensaio, é apocalipse now. Não desperdicemos a chance de amadurecer, simplificar, mudar de atitude. De valorizar o coletivo em detrimento do individual. De praticar um novo método de convívio: uns pelos outros, sempre, e não só na hora do aperto. De fazer deste imenso país uma nação mais homogênea, em prol de uma existência menos metida a besta.
(Martha Medeiros)

domingo, 26 de abril de 2020

ENSAIO: FALÊNCIA DO TEMPO



Pandemia provoca a ilusão de um futuro desfeito.

Este é um tempo de falências. Por toda parte nos chegam notícias de uma falência múltipla: de órgãos corporais, de sistemas de saúde, de famílias, de empresas, da razão, da presidência. E de todas as falências que compõem este tempo, talvez a mais discreta, embora manifestada em tantos detalhes e sentida por muita gente, seja a falência do próprio tempo.
Ouço dos amigos, dos parentes, ouço dos desconhecidos que me alcançam em vídeos cômicos ou melancólicos: isolado em quarentena, o tempo estancou e se recusa a exercer o seu efeito. As horas se repetem, indistinguíveis, indiferentes, e revelam sua absoluta inutilidade, dispostas apenas a expor o cortejo das nossas tragédias. Às notícias interminavelmente tristes, somam-se a impotência, o temor, o tédio, o desalento, e assim vão produzindo algo como um inchaço do presente - que ofusca até mesmo o passado mais próximo, e parece bloquear a vista do futuro inteiro.
Não será a primeira vez que se revela a maleabilidade do tempo, sua subjetividade, sua submissão às leis da incerteza. Sobre a relatividade do tempo, aliás, a tão atacada ciência já cuidou de oferecer fórmulas convincentes. Em situações críticas, porém, não é absurdo dizer que a imprecisão se agrava, que relógios e calendários se mostram ainda mais descartáveis, arbitrários, infames.
O alemão W. G. Sebald devotou quase toda sua obra literária, das mais potentes da nossa época, a compreender as nuances do trauma histórico. É na boca de Austerlitz, seu personagem mais emblemático, que ele situa palavras sobre o tempo, que "não avança de forma constante, mas se move em redemoinhos", que é marcado por "estagnações e irrupções", que "evolui sabe-se lá em que direção". Habitado pelo trauma desde a infância, Austerlitz por vezes se deixa tomar pela esperança de que o tempo não passe, para que nada tenha se passado, para que não seja verdade o que conta a História.
Imersos como estamos no âmago de um possível trauma, coletivo e disperso, não é fácil decifrar o sentido da paralisia temporal que nos toma. Não é o passado o que tentamos negar agora, pelo contrário: a maioria de nós parece contemplar até com certa nostalgia os meses, as semanas, os dias que antecederam este presente atípico. Eram dias de liberdade e inocência: saíamos às ruas, fazíamos festas, abraçávamos os amigos, desconhecíamos a medida da contenção que logo tomaria conta de tantas vidas. Vivemos agora uma ausência desse passado, como se ele tomasse distância e já não nos pertencesse.
"Os mortos estão fora do tempo, os moribundos e todos os doentes nos leitos das suas casas ou dos hospitais, e não são só eles, pois um tanto de infelicidade pessoal já basta para nos cortar de todo o passado e de todo o futuro", descreve Austerlitz. Nós, em nosso tempo, percebemos que basta a iminência da dor e da infelicidade, ou basta que adquira um caráter amplo e social, para que toda a ordem temporal colapse.
O futuro é o que mais estremece, o que mais gera desconfiança. Por toda parte se propaga o discurso de que o mundo mudou para sempre e jamais seremos os mesmos. Em tal discurso, o futuro é estreito, não se estende além dos próximos meses, do próximo ano, desconsidera a possibilidade dos anos plurais, das décadas. Nessa ausência de horizonte, a paralisia do tempo se torna paralisia geral, se torna pandêmica. Tantos de nós vamos cancelando projetos, e nos parecem insensatos os trabalhos que faríamos, as festas que daríamos, inúteis as aulas que poderíamos cursar, fúteis os livros que escreveríamos.
Contra toda a paralisia, entre as muitas ações que o presente nos exige, talvez não seja pouco importante a luta contra a falência do tempo. Ou melhor, a luta contra a ilusão de que já não há tempo, de que o passado não nos pertence, de que o futuro caducou ou inexiste. Não deixemos que a obscuridade do presente nos cegue: é amplo o horizonte do tempo e é em direção a ele que avançamos. Todo projeto, todo trabalho, todo livro encontrarão ainda o seu momento.
Pois o tempo, é Borges quem diz, não é mais que a sucessão, a incontável cadeia de acontecimentos. Enquanto todos dormem, ou batem panelas, ou ouvem inertes os estúpidos pronunciamentos, o silencioso rio do tempo está fluindo nas ruas, nas praças, nos campos, no espaço, está fluindo entre os astros.  Não há de demorar o dia em que despertaremos para ver que o presente virou passado, e que um futuro inteiro nos aguarda.
(Julián Fuks)


sexta-feira, 21 de fevereiro de 2020

GENTIL...


“Gentil é aquele que passa pela vida do outro, toca-o com leveza 
 e o marca, onde ninguém mais pode ver.”

(Josie Conti)



domingo, 16 de fevereiro de 2020

SHABBAT SHALOM, PAPA FRANCISCO!



 
TEXTO ESCRITO NO DIA 15 DE FEVEREIRO DE 2020, SÁBADO

Sou judeu e pouco tenho a ver com isso. Mas por ser judeu humanista e universalista não posso deixar de comentar algumas coisas.

Ver católicos revoltados com o Papa por ter recebido Lula no Vaticano é realmente algo inusitado.

Espera-se de um católico (que conheça minimamente a Paixão de Cristo) e outras partes da Bíblia que tenha capacidade de refletir sobre o conceito de pecado, crime, condenação, e sobre o Jesus histórico ou o Jesus homem.

Espera-se de um católico que conheça o fato de que nenhum idiota chega ao papado. Que para sentar-se no trono de São Pedro há de se comer muitos pães amassados pelo diabo. É muita formação, muita informação, muita disciplina, muita continência, muita capacidade. Inclusive sobre leis.

Como judeu, eu poderia até ficar verde de raiva e de sede de vingança contra a Igreja Católica. Mas meu tempo e lugar é outro. O Papa Francisco também. Temos a felicidade e o privilégio de poder vê-lo à frente do Vaticano, pedindo perdão pelos erros do passado e lutando para corrigir os atuais.

Assim, é difícil imaginar-me como católico e não me sentir verdadeiramente intimado a uma reflexão profunda sobre o fato de o Papa Francisco receber Lula. Se sou católico observante e conhecedor da Igreja e do Papa, sou obrigado a rever meus conceitos e ideias preconcebidas sobre Lula quando o Papa o recebe. Na realidade, quando o Papa recebe Lula, ele convida todos os católicos que não gostam do Lula a fazer isso. Afinal, tenho que ter como pressuposto fundamental que o Papa tem conhecimentos, experiências e uma capacidade que eu não tenho.

Se como católico, coloco-me acima do Papa, é por que  nunca fui católico. Não aprendi nada. Estou condenando uma pessoa simplesmente por que outras o condenaram. Isto, a Bíblia chama de "fofoca". E penaliza gravemente, especialmente aos judeus, uma vez que este regramento é da Torá, ou Pentateuco, parte das Bíblias cristãs e judaicas.

O Papa sabe que boa parte da Lava-a-Jato é fofoca. O Papa sabe o que é LAWFARE e está protestando contra isso. Para tomar esta posição, ele, além de ser muito sábio e corajoso, está muito bem assessorado. Muito melhor do que pseudo-católicos hidrofóbicos e ignorantes.

Eu saúdo o Papa Francisco! Muito obrigado pela sua coragem!

NELSON NISENBAUM

terça-feira, 4 de fevereiro de 2020

“NÃO QUEIRA SER JOVEM NOVAMENTE, VOCÊ JÁ FOI”



Este texto do professor José Inácio Pachecão fala do envelhecer, das mazelas e benesses dessa última etapa da existência. E dá muito o que pensar. É uma exortação para que envelheçamos com tranquilidade. Para que aceitemos que o envelhecer é um outro ciclo da vida e só assim deve ser encarado.

Leia:

Estamos envelhecendo. Não nos preocupemos! De que adianta, é assim mesmo. Isso é um processo natural. É uma lei do Universo conhecida como a 2ª Lei da Termodinâmica ou Lei da Entropia. Essa lei diz que: “A energia de um corpo tende a se degenerar e com isso a desordem do sistema aumenta”. Portanto, tudo que foi composto será decomposto, tudo que foi construído será destruído, tudo foi feito para acabar. Como fazemos parte do universo, essa lei também opera em nós.

Com o tempo, os membros se enfraquecem, os sentidos se embotam. Sendo assim, relaxe e aproveite. Parafraseando Freud: “A morte é o alvo de tudo que vive”. Se você deixar o seu carro no alto de uma montanha, daqui a 10 anos ele estará todo carcomido. O mesmo acontece a nós. O conselho é: Viva. Faça apenas isso. Preocupe-se com um dia de cada vez. Como disse um dos meus amigos a sua esposa: “me use, estou acabando!”. Hilário, porém realista.

Ficar velho e cheio de rugas é natural. Não queira ser jovem novamente, você já foi. Pare de evocar lembranças de romances mortos, vai se ferir com a dor que a si próprio inflige. Já viveu essa fase, reconcilie-se com a sua situação e permita que o passado se torne passado. Esse é o pré-requisito da felicidade. “O passado é lenha calcinada. O futuro é o tempo que nos resta: finito, porém incerto” como já dizia Cícero.

Abra a mão daquela beleza exuberante, da memória infalível, da ausência da barriguinha, da vasta cabeleira e do alto desempenho, pra não se tornar caricatura de si mesmo. Fazendo isso ganhará qualidade de vida. Querer reconquistar esse passado seria um retrocesso e o preço a ser pago será muito elevado. Serão muitas plásticas, muitos riscos e mesmo assim você verá que não ficou como outrora. A flor da idade ficou no pó da estrada. Então, para que se preocupar?! Guarda os bisturis e toca a vida.

Você sabe quem enche os consultórios dos cirurgiões plásticos? Os bonitos. Você nunca me verá por lá. Para o bonito, cada ruga que aparece é uma tragédia, para o feio ela é até bem vinda, quem sabe pode melhorar, ele ainda alimenta uma esperança. Os feios são mais felizes, mais despreocupados com a beleza, na verdade ela nunca lhes fez falta, utilizaram-se de outros atributos e recursos. Inclusive tem uns que melhoram na medida em que envelhecem. Para que se preocupar com as rugas, você demorou tanto para tê-las! Suas memórias estão salvas nelas. Não seja obcecado pelas aparências, livre-se das coisas superficiais. O negócio é zombar do corpo disforme e dos membros enfraquecidos.

Essa resistência em aceitar as leis da natureza acaba espalhando sofrimento por todos os cantos. Advêm consequências desastrosas quando se busca a mocidade eterna, as infinitas paixões, os prazeres sutis e secretos, as loucas alegrias e os desenfreados prazeres. Isso se transforma numa dor que você não tem como aliviar e condena à ruína sua própria alma. Discreto, sem barulho ou alarde, aceite as imposições da natureza e viva a sua fase. Sofrer é tentar resgatar algo que deveria ter vivido e não viveu. Se não viveu na fase devida, o melhor a fazer é esquecer.

A causa do sofrimento está no apego, está em querer que dure o que não foi feito para durar. É viver uma fase que não é mais sua. Tente controlar essas emoções destrutivas e os impulsos mais sombrios. Isso pode sufocar a vida e esvaziá-la de sentido. Não dê ouvidos a isso, temos a tentação de enfrentar crises sem o menor fundamento. Sua mente estará sempre em conflito se ela se sentir insegura. A vida é o que importa. Concentre-se nisso. A sabedoria consiste em aceitar nossos limites.

Você não tem de experimentar todas as coisas, passar por todas as estradas e conhecer todas as cidades. Isso é loucura, é exagero. Faça o que pode ser feito com o que está disponível. Quer um conselho? Esqueça. Para o seu bem, esqueça o que passou. Tem tantas coisas interessantes para se viver na fase em que está. Coisas do passado não te pertencem mais. Se você tem esposa e filhos, experimente vivenciar algo que ainda não viveram juntos, faça a festa, celebre a vida, agora você tem mais tempo, aproveite essa disponibilidade e desfrute. Aceitando ou não, o processo vai continuar. Assuma viver com dignidade e nobreza a partir de agora. Nada nos pertence.

Tive um aluno com 60 anos de idade que nunca havia saído de Belo Horizonte. Não posso dizer que, pelo fato de conhecer grande parte do Brasil, sou mais feliz que ele. Muito pelo contrário, parecia exatamente o oposto. O que importa é o que está dentro de nós, a velha máxima continua atual como nunca: “quem tem muito dentro precisa ter pouco fora”. Esse é o segredo de uma boa vida.

segunda-feira, 27 de janeiro de 2020

CARPE DIEM



Carpe Diem é uma frase em latim de um poema de Horácio, e é popularmente traduzida para colha o dia ou aproveite o momento. É também utilizada como uma expressão para solicitar que se evite gastar o tempo com coisas inúteis ou como uma justificativa para o prazer imediato, sem medo do futuro.
Vindo da decadência do império Romano o termo Carpe diem era dito para retratar o “cada um por si”, devido o império estar se desfazendo, naquele momento a visão de que cada dia poderia ser realmente o último era retratado pela frase que hoje é utilizada como uma coisa boa, porém sua origem vem do desespero da destruição de um grande império antigo.
No filme “A Sociedade dos Poetas Mortos”, o personagem de Robin Williams, Professor Keating, utiliza-a assim: “Mas se você escutar bem de perto, você pode ouvi-los sussurrar o seu legado. Vá em frente, abaixe-se. Escute, está ouvindo? – Carpe – ouve? – Carpe, carpe diem, colham o dia garotos, tornem extraordinárias as suas vidas.”


 
 O poema relacionado à ideia de Carpe Diem, de autoria de Walt Whitman, utilizado como mote no filme:

APROVEITA O DIA (*)

Aproveita o dia,
Não deixes que termine sem teres crescido um pouco.
Sem teres sido feliz, sem teres alimentado teus sonhos.
Não te deixes vencer pelo desalento.
Não permitas que alguém te negue o direito de expressar-te, que é quase um dever.
Não abandones tua ânsia de fazer de tua vida algo extraordinário.
Não deixes de crer que as palavras e as poesias sim podem mudar o mundo.
Porque passe o que passar, nossa essência continuará intacta.
Somos seres humanos cheios de paixão.
A vida é deserto e oásis.
Nos derruba, nos lastima, nos ensina, nos converte em protagonistas de nossa própria história.
Ainda que o vento sopre contra, a poderosa obra continua, tu podes trocar uma estrofe.
Não deixes nunca de sonhar, porque só nos sonhos pode ser livre o homem.
Não caias no pior dos erros: o silêncio.
A maioria vive num silêncio espantoso. Não te resignes, e nem fujas.
Valorize a beleza das coisas simples, se pode fazer poesia bela, sobre as pequenas coisas.
Não atraiçoes tuas crenças.
Todos necessitamos de aceitação, mas não podemos remar contra nós mesmos.
Isso transforma a vida em um inferno.
Desfruta o pânico que provoca ter a vida toda a diante.
Procures vivê-la intensamente sem mediocridades.
Pensa que em ti está o futuro, e encara a tarefa com orgulho e sem medo.
Aprendes com quem pode ensinar-te as experiências daqueles que nos precederam.
Não permitas que a vida se passe sem teres vivido…

(*) Walter Whitman (1819 – 1892) foi um jornalista, ensaísta e poeta americano considerado o “pai do verso livre” e o grande poeta da revolução americana.

terça-feira, 21 de janeiro de 2020

FAXINA PARA QUE COISAS NOVAS ACONTEÇAM


"Às vezes, a gente precisa fazer uma faxina, limpar algumas coisas, jogar fora outras, abrir algumas janelas, fechar outras. Dar alguns espaços, colocar alguns pontos, algumas vírgulas. Assim como água não se mistura com óleo, coisas novas não acontecem, quando as velhas ocupam espaço."
( Caio Fernando Abreu)

PESSOAS BOAS PERDOAM...



Pessoas boas perdoam mil vezes, mas, quando vão embora, nunca mais voltam.

Uma coisa é certa: não há quem abuse da bondade do outro pelo tempo que quiser, pois chega um momento em que as forças e a paciência acabam, ainda que haja amor, afetividade e carinho.
Em um mundo cada vez mais distorcido em seus valores e princípios, torna-se mais difícil saber em quem confiar, em quem depositar esperanças, uma vez que máscaras fazem parte da vestimenta de muita gente. E acabamos, muitas vezes, dando de cara contra o muro, simplesmente por julgarmos os corações alheios de acordo com os nossos. Infelizmente, ser bom demais se tornou perigoso.
Existe, no contexto de hoje, uma necessidade de se dar bem em todos os setores, mesmo que por meio de vantagens indevidas, de caminhos duvidosos, como se os fins justificassem quaisquer meios. Nessa toada, a lealdade e o comprometimento com o outro acabam por ser algo a não se prender, pois o que importa mesmo é galgar os degraus da ascensão social, ascensão no trabalho, no emprego, na vida, o que torna as relações humanas cada vez mais frágeis e vazias.
Mesmo assim, muita gente ainda quer acreditar no ser humano, na amizade verdadeira, no amor, na afetividade sincera.
Muita gente ainda persiste no propósito de ser feliz sem machucar ninguém, sem trair, sem maldizer, sem ferir o outro, colocando-se no lugar das pessoas com quem convive. E é assim que a gente se ferra, simplesmente porque várias pessoas acabarão confundindo nossa solicitude com servidão, abusando do que temos a oferecer.

Perdoar para ser forte, ser forte para perdoar.
Escolha compreender e perdoar para se libertar e seguir em frente…
A felicidade não é ‘ter’, é ‘ser’. Permita-se ser feliz!

Pessoas positivas e capazes de entender o outro acabam perdoando com mais facilidade, retomando o que havia com esperança renovada e acreditando na capacidade de o ser humano se reinventar e melhorar a cada dia, aprendendo com os próprios erros. No entanto, sempre haverá quem não valoriza o perdão que recebe, como se todos fossem obrigados a perdoar e perdoar sempre que ele vacile. Muitos não refletem e jamais mudarão, afinal, para eles é o mundo que está errado, eles não.
Uma coisa é certa: não há quem abuse da bondade do outro pelo tempo que quiser, pois chega um momento em que as forças e a paciência acabam, ainda que haja amor, afetividade e carinho.
Pessoas boas perdoam infinitas vezes, porém, quando desistem, acabam desistindo por completo. Então já era, não haverá mais volta, perdão ou chance alguma. Pelo menos isso.

Marcel Camargo

REFLITAM SOBRE ISSO...



Esta vida vai passar rápido, não brigue com as pessoas, não critique tanto seu corpo. Não reclame tanto. Não perca o sono pelas contas. Não deixe de beijar seus amores. Não se preocupe tanto em deixar a casa impecável. Bens e patrimônios devem ser conquistados por cada um, não se dedique a acumular herança. Deixe os cachorros mais por perto. Não fique guardando as taças. Use os talheres novos. Não economize seu perfume predileto, use-o para passear com você mesmo. Gaste seu tênis predileto, repita suas roupas prediletas, e daí? Se não é errado, por que não ser agora? Por que não dar uma fugida? Por que não orar agora ao invés de esperar para orar antes de dormir? Por que não ligar agora? Por que não perdoar agora? Espera-se muito o Natal, a sexta-feira, o outro ano, quando tiver dinheiro, quando o amor chegar, quando tudo for perfeito… Olha, não existe o tudo perfeito. O ser humano não consegue atingir isso porque simplesmente não foi feito para se completar aqui. Aqui é uma oportunidade de aprendizado.
Então, aproveite este ensaio de vida e faça o agora ...ame mais, perdoe mais, abrace mais, viva mais intensamente e deixe o resto nas mãos de Deus.

Marcela Taís

terça-feira, 14 de janeiro de 2020

ORAÇÃO DE SANTO AGOSTINHO

A morte não é nada.
Eu somente passei para o outro lado do caminho.
Eu sou eu, vocês são vocês.
O que eu era para vocês, eu continuarei sendo.
Me deem o nome que vocês sempre me deram,
falem comigo como vocês sempre fizeram.
Vocês continuam vivendo no mundo das criaturas,
eu estou vivendo no mundo do Criador.
Não utilizem um tom solene ou triste, continuem
a rir daquilo que nos fazia rir juntos.
Rezem, sorriam, pensem em mim.
Rezem por mim.
Que meu nome seja pronunciado como sempre foi,
sem ênfase de nenhum tipo.
Sem nenhum traço de sombra ou tristeza.
A vida significa tudo o que ela sempre significou.
O fio não foi cortado.
Porque eu estaria fora de seus pensamentos, agora
que estou apenas fora de suas vistas?
Eu não estou longe, apenas estou do outro lado do caminho...
Você que aí ficou, siga em frente...
A vida continua, linda e bela como sempre foi.
(Santo Agostinho)

terça-feira, 7 de janeiro de 2020

PESSOAS FALSAS SÃO AMIGÁVEIS APENAS QUANDO LHES CONVÉM




Fingir ser o que não é: algo habitual em pessoas que não se conhecem plenamente e, portanto, não possuem domínio sobre si mesmas.
Há pessoas que se sentem coagidas com o próprio estilo de vida e preferem parecer diferentes de como são ou procuram através de “disfarces” de personalidade enganar os outros e, assim, obter benefícios para si mesmas. Vemos isso com muita frequência naqueles que são gentis apenas quando há outros presentes. É apenas uma fachada hipócrita e falsa que sem dúvida esconde um propósito.
Quem realmente é gentil e se interessa sem segundas intenções em fazer o bem aos outros, não está esperando ter um público que admire sua atitude. São pessoas que são sempre assim: têm uma bondade sincera que vem do coração. E, geralmente, não é sua única característica, também tendem a ser compreensivas, transparentes e capazes de ouvir os outros. É simplesmente o jeito delas de ver a vida!
Pessoas amigáveis ​​por natureza, é muito fácil reconhecer e não tanto pela maneira como falam, mas pelas atitudes que têm com os outros. A bondade sincera, que não tem intenções duplas, se traduz em gestos como deixar o celular de lado e prestar atenção à conversa com o outro, ou fazer perguntas que demonstrem interesse.
Nestes momentos em que todos podemos nos tornar um tanto indiferentes um ao outro, sentir-se ouvido pode fazer uma grande diferença.
As pessoas falsas que apenas procuram parecer gentis para obter lucro, acreditam que outros não observam as suas ações. A verdade é que não apenas as vemos, mas também nos causa um pouco de pena; porque é difícil amar alguém que finge ser algo que ele não é.
Quando uma pessoa é gentil, ela também é sincera e apenas ouve, sem julgar. É doloroso conversar com alguém que tem milhares de preconceitos e não é capaz de aceitar outras ideias porque elas sempre colocam as suas à frente.
A bondade não é apenas retribuir um favor ou abrir a porta quando alguém entra ou sai. A bondade também é manter um perfil discreto e não fingir se destacar ou estar acima dos outros. Aqueles que são amigáveis ​​também são consistentes, estáveis ​​e já causam uma boa impressão nos primeiros minutos de conversa.
Você sabia que a ciência afirma que decidimos se gostamos ou não de alguém nos primeiros 7 segundos em que a conhecemos?
A bondade cria bons ambientes de trabalho, gera harmonia nas famílias, torna as reuniões entre amigos cordiais e agradáveis.
Os amigáveis ​​são pessoas apreciadas pelos outros e que os fazem ter uma personalidade única e inestimável, saber tirar o melhor proveito dos outros e criar bons ambientes; e também, eles parecem ser os que apreciam tudo isso.

(Fonte: gutenberg.rocks)

segunda-feira, 6 de janeiro de 2020

A VIRTUDE DE MANTER A MENTE ABERTA



Acontece com muita frequência em nosso dia a dia, encontrarmos pessoas que se mantêm firmes em seus modelos de pensamento. Amigos próximos inclusive, relutantes para realizarem mudanças, para se arriscarem a escutar, inclusive, opiniões diferentes da voz própria, por acreditarem que tudo o que se distancia dos seus padrões de percepção é errado.
A nossa sociedade hospeda uma grande quantidade de mentes quadradas, que colocaram um “tapa-olho” em seu cérebro, negando a abertura mental e usando o conhecido como escudo. São mentes inflexíveis que sobrevivem à rotina e se negam a se abrir para novas opções.
Temos certeza de que você também conhece pessoas com esse perfil de pensamento e de personalidade. O difícil é quando são familiares, amigos, colegas de trabalho com quem temos que nos relacionar a cada dia. É complicado sermos conscientes da grande quantidade de muros que existem neles.
Não obstante, é preciso ter obviamente uma clara percepção e postura para que não se deixe se influenciar, não se contagiando com o vírus da inflexibilidade, da rotina que se nega às mudanças por medo de desestabilizar-se. Uma mente aberta é uma arma poderosa que devemos saber desenvolver.

Estratégias para manter uma mente aberta
Há algo que vale a pena levar em consideração. É possível que você mesmo seja o exemplo de uma pessoa que saiba manter a abertura mental, que tenha se distanciado desse molde que esculpe esses cérebros geométricos voltados para seus próprios interesses, tomados pelo medo de mudanças.
Entretanto, de certa forma, todos nós temos uma ou outra parte que não se curvou completamente para tal abertura. Todos nós temos algum “pequeno” medo e dispomos de uma reduzida “zona de conforto” da qual é muito difícil de sair. Você é capaz, por exemplo, de aceitar opiniões diferentes da sua? Você acha que os seus princípios, as suas opiniões e crenças são sempre as verdadeiras?
Para se aprofundar um pouco mais nesses aspectos, convido-te para que leve em consideração todas essas dimensões que nos ajudam a manter uma mente aberta.

1. Questione o que o rodeia
Não se trata de duvidar de tudo o que vemos ou fazemos. Trata-se de não dar as coisas sempre como certas, aceitando que “tudo é como deve ser”. É muito possível, por exemplo, que no seu trabalho existam muitos aspectos que devam ser melhorados e mais: pode ser que até você mesmo possa potencializar as suas habilidades para crescer profissionalmente.
É possível, inclusive, que essa pessoa que tanto admira nem sempre tem razão, e que muitas das coisas que você lê todos os dias tenham outros matizes a serem consideradas. Seja um pouco mais crítico em relação a tudo o que o rodeia.

2. Aceite o desconhecido, admita o inesperado
O medo é o maior arquiteto de barreiras que você poderá encontrar na sua vida. É ele quem nos impede de descobrir novas opções, novos caminhos que poderiam levar até uma satisfação pessoal mais elevada. Por que não aceitar tudo aquilo que chega sem avisar? Por que não dar uma oportunidade ao imprevisto?
Poucas coisas envelhecem tanto quanto o medo e a covardia. As portas que fechamos por medo do imprevisto são espelhos no qual amanhã deixaremos os nossos lamentos e arrependimentos.

3. Obtenha inspiração de tudo que o rodeia, até dos seus inimigos
Acredite ou não, as pessoas podem obter uma grande aprendizagem até daquilo que nos causa dano. Uma mente aberta é a que escuta todas as opiniões e a que não vira o rosto para fugir.
Pode ser que tenha na sua frente alguém acostumado a reclamar para os outros, a enganar e a submeter, porém, conhecendo também esses padrões de comportamento, aprendemos mais com eles para saber o que NÃO queremos ser, para compreender do que temos que nos distanciar e o que é o que queremos para nós mesmos.
Tente tirar sempre algo bom de toda situação que experimentar a cada dia. Uma mente aberta não joga a âncora só nas coisas negativas, na chuva de hoje, no erro cometido ou nesse “não” que tivemos como resposta.
A vida não para nos fracassos e nas perdas se nos permitirmos à honra de reconhecer os erros para aprender com eles. Estaremos colocando em prática as engrenagens para a mudança, para a melhora. É questão de ser um pouco mais flexível e de modificar as nossas perspectivas para o positivismo e para a superação.

A vida é uma inspiração contínua que exige olhos abertos. Veja o seu exterior e conforte o seu interior. É dessa forma que alcançará um verdadeiro conhecimento das coisas. Não tenha medo de errar e, simplesmente, atreva-se a viver com uma mente aberta.

Felippe Mesquita