domingo, 28 de fevereiro de 2010

NO COLO DO VERDE VALE



Cansado. Assim sentia-se o Tempo.
- Muito mais que velho, muito além de antigo. Isto eu sou - pensava andando para a frente , ele que não conhecia outra direção.
Vasculhando o passado que trazia às costas, não encontrava o dia em que tinha começado a caminhar. Já procurara muito. Agora até duvidava que existisse esse dia, que ele, como tudo o mais, tivesse um começo. Há tanto andava, que não sabia quanto, e bem podia há outro tanto estar andando.
Lá longe, porém, na juventude - se é que alguma vez tinha sido jovem - lembrava-se de caminhar com alegria, os passos, ou a alma, leves. Ah! sim, tinha sido bom. Naquela época, certo de que o mundo inteiro era arrastado por ele, como numa imensa rede, enchia-se de orgulho e de poder.
- Eu piso com o pé direito - dizia afundando bem o calcanhar - e trago a primavera. Piso com o esquerdo - lá ia o outro pé marcando a terra -e vem chegando o verão. Cada passada minha faz uma flor, um fruto, uma semente.
Ria vendo girar as pás do moinho de vento.
- Coisinha de nada - dizia-lhe - se o vento acabar, você morre. Eu não, eu sou meu próprio vento. Sou eu que comando a ordem de tudo, que faço a hora do sol, e marco a noite da lua. Eu que empurro este mundo todo para a frente.
Essa tinha sido sua razão para andar. Mas agora, tantas luas acumuladas no seu rastro, tantas frutas desfeitas no chão, já não lhes via a graça. Pois nada havia à sua frente que não conhecesse.
Só uma coisa não conhecia. Parar.
Foi pensar na palavra, e estremecer de susto. Nunca antes essa idéia tinha estado com ele. Pela primeira vez desde a alegria, percebeu que tropeçara em algo novo.
Parar, seria possível?
- Mas se eu parar - pensou - os filhos não se acabam no ventre das mães, os passarinhos nos ninhos não aprendem a voar.
E continuo andando.
Mas a idéia seguiu caminho com ele, mais tentadora a cada passo. E o Tempo começou a olhar o mundo com outros olhos, procurando em todo lugar a sedução que o faria cometer tão grande audácia.
Olhou a cachoeira. Imaginou-se ali, os pés metidos na água fria, ouvindo para sempre o canto transparente.
- Mas seu eu parar, pára a água, - pensou num susto - a canção emudece. Não terei mais o que ouvir, nem onde molhar os pés. E triste, tocou as pernas para a frente, uma depois da outra, como sempre.
Olhou a floresta. Pensou o bom que seria deitar naquele musgo rasgado de sol. E já se via quase lagarto, quando lembrou que as árvores parariam de crescer, as folhas parariam de mexer, o sol pararia de brilhar. E levantando os joelhos com cansaço e tédio, foi adiante.
Chegou ao deserto. - Enfim, um lindo mundo parado ! - exclamou. Mas da crista das dunas o vento soprou areia em seus olhos, e ele percebeu que nem ali poderia ficar. E foi ao mar, e viu as ondas. E passou pelo lago, e viu os peixes. Tudo se movia. Tudo, pensou, estava preso à rede que trazia nas costas.
Até chegar ao vale. Liso, lindo, lento vale.
Águas se perseguiam entre lago e regatos, espigas balançavam a cabeça jogando grãos ao vento, flores se voltavam para o sol. Ali também, no mesmo movimento, nada estava parado.
- Pois eu estarei ! - exclamou súbito o Tempo, reconhecendo naquela paz todo o seu desejo.
E aos poucos, suspiroso, temendo a própria coragem, espraiou-se no vale, estendeu-se longo como ele mesmo não sabia ser. E pela primeirva vez descansou.
Céu acima, doce grama embaixo, ainda esperava porém o desastre, o enorme desabar da ordem. E alisava o pêlo daquele chão, finas hastes e talos, para levá-lo na memória das mãos quando fosse preciso levantar-se e recomeçar a marchar para sempre, em castigo por aquele momento de fraqueza.
Silêncio no vale.
Acabou-se - pensou, esmagado de culpa - tudo parou. - A luz do sol pareceu escurecer.
-É o fim, - e entrefechou os olhos.
Mas chegou um mugido de longe, estremeceu um coelho no mato, uma folha caiu.
Para surpresa do Tempo, movia-se o mundo.
- Não sou eu, então, que carrego isso tudo ? - perguntou-se intrigado, sentando.
E debruçado para olhar de perto o mundo pequeno que nunca tivera tempo para olhar, viu o grilo saltar vergando fios de grama, viu o escaravelho marcar sua passagem rolando a bola de esterco, a serpente escorrer em curvas, cada um no seu ritmo, avançando, tecendo a rede que ele acreditava segurar as pontas.
E ali, inclinado sobre a vida, descobriu aquilo que nunca suspeitara. Não era ele com seus passos que ordenava tudo, que comandava o salto do grilo, o vento na espiga, as pás do moinho. Mas eram eles, grilo e espiga, cada um deles que, com seus pequenos movimentos, faziam os passos do Tempo.
Então abriu as mãos, soltou a carga que acreditava carregar, deitou a cabeça. Serena, a nuvem se afasta. O sol volta a desenhar sombras.
No colo do Verde vale, dorme afinal o Tempo, enquanto filhotes amadurecem nos ovos.

Marina Colasanti


(Doze Reis e a Moça no Labirinto do Vento - Marina Colansanti).

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

ESTEJA ATENTO


Numa aldeia distante, ao sul da Rússia, um de seus habitantes mais pobres recebeu um bilhete de trem para visitar um primo muito rico. Ele chegou na ferroviária segurando o seu bilhete.
Como nunca tinha viajado de trem, ele não sabia como agir e percebeu que havia um grupo de pessoas bem vestidas e imaginou que não deveria sentar-se com elas.

No fundo da estação, ele viu um grupo de malandros maltrapilhos, juntou-se a eles imaginando que aquele era o seu lugar.

Os passageiros da primeira classe embarcaram, mas os maltrapilhos ficaram aguardando.
De repente, ouviu-se um apito e o trem começou a se movimentar. Os malandros pularam para dentro do vagão de bagagens, e ele entrou com eles, ficando encolhido em um canto escuro do vagão, segurando a sua passagem com medo. Ele agüentou firme, imaginando que aquele era o seu lugar. Até que a porta do vagão abriu e entrou o maquinista acompanhado de dois policiais.
Eles reviraram as bagagens até que encontraram ele e seus amigos no fundo do vagão.
O maquinista então perguntou: "Posso ver os bilhetes?”
Ele prontamente se levantou e apresentou o seu bilhete.
O maquinista analisou a passagem e começou a dizer:
-"Meu rapaz, você tem uma passagem de primeira classe nas mãos. O que você está fazendo aqui no vagão de carga?"
E o maquinista concluiu:
-"Quando se tem um bilhete de primeira classe, o indivíduo deve se comportar como um passageiro de primeira classe".

Ei amados! Estejam atentos para conhecer e buscar caminhos, lugares que nos farão bem.
O bilhete de primeira classe hoje é JESUS gratuitamente em sua vida!!!
Não deixe passar despercebido... Ele é teu Deus!!!

DEUS NOS ABENÇOE...
(Recebido de Elizabeth Vianna)

MEU JARDIM

NOSSOS DESERTOS


Um dia, todo mundo tem que atravessar seus desertos.
Momentos onde a solidão se faz tão presente que parece ter um corpo.
A dor faz o tempo ficar lento, demorado, e tudo parece parar.
É neste momento, que o ser humano descobre o que são fardos,
os fortes encontram a escada que os fará subir,
os fracos se perdem em lamentações,
saem buscando os culpados…

Aí está a diferença entre passar pelo deserto e o permanecer nele.
Os que resistem, os que persistem, racionam a água,
caminham um pouco mais, dão um passo além das forças.
Os que desanimam, bebem toda a água do cantil,
esperam pelo milagre que não virá,
pois todo milagre é fruto de uma ação positiva.

Se hoje você está atravessando o seu deserto,
seja ele o mais seco do mundo, não importa,
em algum canto dele, você encontrará um oásis.
Na nossa vida, oásis são os amigos que não nos abandonam,
são aquelas pessoas desconhecidas que se preocupam com o próximo,
é a fé que todos nós temos e renova a esperança.

Mantenha a racionalidade e uma certeza: você vai atravessá-lo!
Não desista de nada, não desista de você!

A poeira vai abaixar, a tempestade vai passar,
e depois de tudo, o sol vai brilhar por você.
A esperança é essa brisa que sopra seus cabelos,
e a força que nos empurra para a vitória,
é o amor de Deus que nunca nos abandona.

Paulo Roberto Gaefke

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

A PALAVRA E O SILÊNCIO


O silêncio não é a negação da palavra, como a palavra não é tampouco a negação do silêncio.
Há silêncios eloqüentes, como palavras vãs. É, precisamente, a continuidade entre um estado e outro que forma a trama completa de nossa vida do espírito. É na riqueza do nosso silêncio interior que se forma a qualidade de nossas manifestações verbais. Como é na riqueza de sua repercussão no silêncio posterior que reside o sentido mais profundo no nosso privilégio verbal.
O homem é a única criatura que fala. Mas é também a única que sabe dar ao silêncio o seu sentido profundo.
O silêncio dos seres humanos, das pedras, das florestas, dos animais, só tem sentido para nós, seres verbais, que damos um significado positivo, poético, filosófico, religioso a este silêncio das coisas e dos seres infra-humanos. Como o rumor de nossas palavras só tem sentido porque nelas se reflete o mundo infinito que está para lá de sua sonoridade, o mundo dos sentimentos, das idéias e das grandes realidades.

Tristão de Athayde

domingo, 21 de fevereiro de 2010

SER FELIZ É CORRER RISCOS



Feliz é aquele que saboreia quando come, enxerga quando olha,

dorme quando deita, compreende quando reflete, aceita-se e aceita a vida como ela é.

Há quem diga que felicidade depende, antes de tudo, de bastar-se a si próprio;

de não depender de ajuda, de opinião e, sobretudo, de não se deixar influenciar por ninguém.

Será mesmo? Você pode imaginar uma pessoa assim?

Lao Tzé dizia: "Grande amor, grande sofrimento; pequeno amor, pequeno sofrimento;

não amor, não sofrimento".

Pode imaginar você um homem sem paixão, sem desejos? A felicidade,

entendida assim, não seria apenas um engôdo, algo contra a natureza humana?

Evidentemente! Sem amor, sem paixão, que sentido teria a existência?

A felicidade é proporcional ao risco que se corre.

Quem se protege contra o sofrimento, protege-se contra a felicidade.

Quem se torna invulnerável, torna sem sentido a existência.

O homem feliz aceita ser vulnerável. O homem feliz aceita depender dos outros,

mesmo pondo em risco sua própria felicidade.

É a condição do amor e de todas as relações humanas, sem o que a vida não teria sentido.

(Jean Onimus)

FELICIDADE



"FELICIDADE É A CERTEZA DE QUE
NOSSA VIDA NÃO ESTÁ PASSANDO INUTILMENTE."

(Érico Veríssimo)

O TEMPO

As horas estão caindo do relógio, como as folhas, que despencam das árvores, no outono.
Um tempo irrecuperável vai passando, reduzindo a distância
entre o hoje e o amanhã,
entre o agora e o depois,
entre o presente e o futuro.

O tempo vai passando.


Se permaneço, corro o risco de ficar parado,
como um carvalho forte,
que resiste ao tempo
e, por isso, envelhece sempre mais.
Se corro com o tempo, antecipo o fruto do sonho,
que pode estar muito verde,
para ser posto à mesa.

O tempo vai passando, levando as horas consigo,
deixando anseios comigo de quem não quer se atrasar.

(José Acácio Santana)

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

SENTIDOS

Paulo Roberto Gaefke

A perfeição é feita de pequenos detalhes - não é apenas um detalhe.
(Michelangelo)

Muitos passam a vida inteira buscando um sentido para a própria vida.
Buscando um amor como se fosse âncora para o seu barco,
um amigo que diga sim para todos os seus atos,
um "deus" que diga amém para todos os seus sonhos,
um culpado para todos os seus erros.
um sentimento para todos os seus vazios,
uma única resposta para tantas perguntas...

A vida é composta de minúcias,
de notas musicais que compõem a grande sinfonia,
de pequenos rabiscos que fazem a grande obra de arte,
de pequenas estrofes que compõem a poesia,
de poucos passos que levam a grandes distâncias,
de momentos que não voltam mais,
de emoções indescritíveis, sem preço...

Não se perca das pequenas emoções,
dos sentimentos que te movem para a vida.
Não corra atrás das grandiosas obras da ilusão,
os cargos que parecem maiores que a empresa,
os títulos que parecem maiores que a função,
os desejos que parecem maiores que o tesão.

Tempo perdido é vida perdida,
olhos que se prendem no que não possuímos,
são olhos cegos, vazados pela ambição,
desperdício de dias e emoção.

Preste atenção no que você já conquistou!
valorize as pequenas coisas, os detalhes da vida,
o poder de andar, respirar, abraçar, beijar. declarar-se pleno!

O tempo passa de acordo com o valor que nós lhe damos.

Assim, a vida pode ser transformada com uma simples mudança de atitude,
com a valorização do que você é capaz de fazer,
com a infinita capacidade de aprender,
com a humildade em reconhecer que a felicidade é simples,
composta por detalhes cheios de valor,
entre eles, o maior de todos, o amor.

Que o amor não seja apenas mais um detalhe na sua vida.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

O DONO DO TEMPO

Paulo Roberto Gaefke

Os homens desse planeta sabem que um dia irão morrer,
que a sua geração vai passar e uma nova lhe sucederá,
mas, mesmo assim, vivem como se tivessem a eternidade dos dias,
como se fossem imortais na carne,
deixando o seu bem mais precioso, o tempo,
escorrer por entre os dedos.

Fazem isso, quando vivem amargurados pelos problemas que eles mesmos
criam,
quando transformam pequenos contratempos em grossos espinhos que
ferem a alma.

Fazem isso, quando não resistem a tentação de ir pelo caminho “mais
fácil”, quando se entregam nas mãos dos vícios, ou de pessoas que
consomem a alma.

Fazem isso, quando se agarram no passado, em velhas fotografias, em
pessoas que partiram, em amores que não deram certo, ou velhas desculpas
para não enfrentar a vida.

Não deixe o tempo se perder no emaranhado das suas dificuldades,
transforme cada decepção em pedras que se assentam no caminho e fazem um solo forte para seus passos.

Transforme os erros em adubo para as suas novas investidas, arrisque-se
mais e crie um jardim florido.

Não se deixe abater, nem o tempo passar por passar, vago, vazio, perdido
e inútil…

O tempo é o presente que o Criador lhe oferece a cada dia, e cada segundo
tem seu custo anotado no Livro da Vida, onde prestaremos contas, do
atraso, do descaso, do cuidado e de tudo o que fizermos com esse bem que
nós chamamos de Tempo, e que Deus chama de Presente.
É hoje!
O melhor dia para sua virada, para recomeçar, para ser mais
feliz, para fazer valer os seus direitos, para ter o que deseja.
A montanha está lá longe, é alta e parece que nunca será alcançada,
mas, se o seu passo for firme, em breve,
ela estará embaixo dos seus pés e você sentirá o gosto bom da vitória.