sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

ADEUS, ANO VELHO!

Nesses últimos instantes de 2010, recorri a um texto da Letícia Thompson, que, particularmente, gosto muito. A mensagem abaixo traduz muito o que passamos, sentimos, não só em 2010, mas ao longo da vida. Uma boa reflexão para a virada do ano!
FELIZ 2011!
O meu carinho por você...
Nair



"É tempo de preparar as bagagens, pois daqui a algumas horas o próximo trem chega à última estação.
Com cuidado vamos selecionando o que queremos carregar. Outras coisas nos seguirão, independentes de nós. Estão impregnadas na nossa pele e qualquer que seja o próximo caminho, nos acompanharão. E é bom que assim seja!
Essas coisas, freqüentemente doloridas, serão nossos sinais de atenção para os próximos passos, nossa febre nos alertando que devemos ter cuidado. São as benditas dores que nos tornam pessoas reais e humanas, sensíveis e verdadeiras.
Vamos colocar nessa mala, voluntariamente, nossos mais doces momentos, mesmo se passados.
Do nosso lado, nossos amigos mais queridos: os antigos, os novos, os que estão chegando e a lembrança dos que partiram.
Traremos ainda nessa mala nossas roupas mais bonitas e aquelas que contam histórias. Ninguém duvida que certas roupas contam histórias, da mesma forma que os perfumes e as músicas.
Traremos no coração os lugares que pisamos e, se não deixamos nossas marcas, carregamos em nós as marcas deles.
Traremos, sobretudo, nosso coração, vivido, quebrado e recolado, mas ainda inteiro, palpitante!
Nada de lágrimas! Elas ficarão escondidas para as grandes ocasiões e chegarão nos momentos oportunos, desejadas ou não. E nos trarão a calma dos grandes rios quando precisarmos recuperar forças para continuar o caminho.
Fecharemos então essa mala com alegria e a selaremos com ação de graças, pois tudo o que foi e tudo o que vem é para nosso crescimento.
Que possamos encontrar em tudo e em cada coisa o ponto positivo que vai nos mostrar que vale a pena ainda seguir.
E que, acima de todas as coisas, seja o Senhor nosso maior companheiro de viagem. É a mais linda forma de nunca nos sentirmos sós! "

LetíciaThompson

quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

SOU O PRÓPRIO TEMPO


Sou o próprio tempo
que marca em mim.
O tempo de ser eu mesmo,
de enfrentar meus conflitos,
conviver com meus fantasmas,
Sim, quem não os tem?

Sou horas, minutos e segundos,
que, às vezes, são tão marcantes
quanto a efemeridade
do que ainda não aconteceu.

Sou o próprio tempo que deixa sinais,
pequenos riscos na alma,
lembranças que vão me transformando.
Sei onde piso, apesar do medo;
sei onde vou, apesar da incerteza.

Sou eu mesmo quem se arrisca
em amores frustrados,
empregos cansativos,
amigos nem tão amigos assim
e pessoas vazias,
que me deixam entediado.

Sou o próprio tempo
e não sou dono de nada,
nem do meu tempo, que me cobra tanto
coisas que fiz e que ainda tenho que fazer.
Quantas delas poderei aproveitar?
O que é realmente importante?
Não sei... O tempo, quem sabe, um dia dirá.

Por enquanto, quero viver e
ser dono de alguns minutos.
Tempo suficiente
para me arriscar em um novo amor,
porque sem amor não vejo graça no tempo,
que se arrasta lentamente
na solidão do meu quarto.

Por isso, sou o próprio tempo,
e desejo que o tempo que me resta
seja feito de sonhos,
recheados com esperanças,
e delicadamente coberto com amor,
como se o tempo fosse um doce,
um desejo de infância,
um tempo de ser feliz.

Paulo Roberto Gaefke

sábado, 25 de dezembro de 2010

TENHA UM FELIZ NATAL!


Natal também é tempo de Amor;
tempo de sonhos; tempo de trocas;
tempo de dar; tempo de receber.
Tempo de realizar esperanças e
sonhos guardados na gaveta de nossa alma.

Desejo que todos os sonhos que você guardou
na sua gaveta se transformem em realidade!

Que este Natal transforme a sua vida.
Que você possa dar e receber muito AMOR,
para aqueles que estão próximos e
também aos que estão distantes.
Que o seu novo ano comece cheio de luz.
Que o sol brilhe mais forte em todos os seus dias.
E quando chegar a noite, que as estrelas lhe sorriam.
Que os alimentos e a água sejam como
bênçãos para a saúde de seu corpo.
Que o sucesso material lhe acompanhe em todas as horas.
Que suas necessidades afetivas sejam todas concretizadas.

E por tudo isto, a vida seja para você um prazer de fonte inesgotável.

Feliz Natal e um Ano Novo diferente, repleto de surpresas e confirmações!

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

TEMPO DE SER ABRIGO


Seja lá o que for, ninguém consegue viver sem um teto.
Concreto, telhas, sapé, zinco ou papelão, numa bonita casa,
debaixo do viaduto, da ponte ou da marquise,
num rico apartamento, no cortiço ou na favela.

A casa define o homem.
O homem-rato do bueiro,
o homem-das-cavernas do viaduto,
O homem-ilustre dos palacetes.
De qualquer forma que se apresente,
a casa é " o espaço da vida",
o abrigo dos sonhos e esperanças.

Quem não tem onde morar não tem "espaço para a vida",
não tem sonhos, tem pesadelos,
falta-lhe abrigo para aninhar as esperanças.
O mais terrível, porém, é ter casa e não ter espaço,
não ter sonhos, nem esperanças.

O pior é ter as portas fechadas.
O pior é ter onde morar, mas se cercar de alarmes,
de grades e cadeados, guardas e muros altos.

Agora, é tempo!
Tempo de ser abrigo, tempo de abrir janelas,
portas e portões para a fraternidade.

É tempo de fazer circular de dentro para
fora de nossas casas e coração
a brisa da solidariedade.

É tempo de ser abrigo de Alguém.
É tempo de se fazer abrigo de Alguém.
Vamos viver este tempo de graça.


Patrícia Silva

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

MALA DE VIAGEM


(Paulo Roberto Gaefke)

Felizes os que percebem a tempo
que não tem uma boa bagagem,
antes de embarcar no último trem para o infinito,
aquele que passa sem avisar, que leva nossos sonhos,
deixando no rastro do horizonte apenas lembranças...
pedaços do que fomos, ou o que representamos para alguém.

Felizes os que acordam e resolvem viver,
decidem colocar na mala da vida os melhores momentos,
sendo importantes na vida de alguém,
conquistando tesouros que não enferrujam,
praticando a caridade, fazendo o bem sem olhar a quem.

Amizades que se consolidam na eternidade,
forjadas na união das mãos que se ajudam,
olhos que veem a dor e dividem o pão,
coração que sofre junto com a dor do outro,
que se compadece dos caídos,
que se entristece pelos que ficaram no chão.

São os que acordam para a realidade da vida,
que fazem mais do que viver, compartilham,
são generosos, enxergam o bem,
pouco falam, mas fazem muito,
e descobrem por fim, que a mala está cheia,
e extremamente leve, não precisa de rodas,
dispensam carregadores e favores
pois estão cheias de respeito,
carinho e saudade,
uma mala inteira de felicidade.

Essas pessoas são inesquecíveis...

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

UM MUNDO MARAVILHOSO


Eu não sei se a terra se acomodou com tantas catástrofes ou se as pessoas acabam se acostumando com as tragédias. Prefiro pensar que não. Prefiro pensar que os corações não se endurecem, não tornam-se insensíveis e indiferentes.

O que aconteceu no Haiti essa semana moveu o mundo inteiro. De repente os países e as populações uniram-se num bloco de solidariedade para tentar salvar o que se podia da situação. Grandes gestos, grandes feitos, grandes homens...

Mas por que é preciso uma tragédia para que o mundo acorde para ajudar um dos países mais pobres do mundo? Antes do terremoto a miséria já assolava o local, os tetos já caíam sobre as cabeças e as pessoas já não tinham o que comer.

Assim somos nós nesse mundo que Deus criou. Nos acomodamos a tudo e passamos a olhar com indiferença e muitas vezes é preciso que algo extraordinário aconteça para que sejamos sacudidos e possamos acordar.

Nos comportamos dessa maneira em relação ao mundo e aos nossos. Quem ainda não percebeu que as lágrimas aproximam muito mais as pessoas que as alegrias? Os abraços de consolação são mais demorados e mais sinceros que os de felicitações, como se a dor tivesse o poder de soldar o que estava quebrado, unir o que estava separado.

Talvez seja essa a razão das grandes tragédias que acontecem. Talvez precisemos desses alertas para que possamos olhar nossa casa e o mundo de forma diferente, mais humana.

Eu queria que não fosse preciso uma doença, uma má notícia, uma desilusão para que as pessoas despertassem para a vida. Queria um mundo maravilhoso onde ouvir fosse natural, a gentileza fosse natural, o perdão fosse dado antes que o outro pedisse, onde compartilhar fizesse parte da rotina diária de cada um.

Se assim fosse, haveria menos famílias separadas, menos fome, menos solidão, menos peso nos ombros de certas pessoas e menos infelicidade.

O mundo é o que é e não podemos voltar atrás. Mas nada nos impede de olhar para a frente, de abrir os olhos, os braços e o coração. Nada nos impede de dar as mãos, reparar erros, erguer a cabeça e continuar a acreditar que amanhã pode ser diferente de hoje e que, por mínima que ela seja, nossa contribuição pode ser dada.

Quem pensa que não possui nada e nada pode dar está muito enganado. Damos muito quando oferecemos nossas orações e iluminamos os caminhos quando distribuímos a esperança.

Quando ajudamos o nosso próximo, não deixamos pegadas apenas na sua história, deixamos também marcas no coração de Deus.

Letícia Thompson

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

VAI REVER AS ROSAS...


Quando o amor bate às portas do nosso coração nos sentimos importantes.
Amar e saber-se amado da mesma pessoa é o sonho de todo mundo.
Ser único, sentir-se único e ter para si o tesouro único que a terra tinha escondido.
Quando amamos sempre somos únicos, pois ninguém sente como nós,

ninguém espera, deseja, sonha e dói como nós.
Ninguém se alegra tanto, se desespera tanto, comete tantos erros e tantos acertos.
O amor nos torna seres extraordinários.

Ah! E a pessoa amada, essa então!!!
O coração apaixonado possui essa capacidade extraordinária

de ignorar os pequenos defeitos (e até apreciá-los!), moldar carinhosamente as
pequenas diferenças e fazer de conta que não está vendo,
não está sentindo, não está doendo.

Ele perdoa sem que perdão seja carecido e continua

o eterno caminho das promessas dos que amam para sempre.
E de tanto amar, tanto aperfeiçoar e fechar os olhos,

ele se esquece que o ser perfeito não existe.

Então, quando amanhece o dia do dia-a-dia, os defeitos
ou o que a pessoa é, em si, realmente, aponta e desaponta.
Já não parece no fim da tarde da convivência

que a pessoa de antes e a de depois são a mesma.
Já não parece assim tão única e tão especial.
Já tudo parece tão igual, tão simples e tão normal.
Tanto, que causa desencanto.

E é então que vem a lição de um principezinho

que teve a ousadia de amar uma rosa.
Foi preciso caminhos e encontros para que alguém

lhe dissesse, enfim: "vai rever as rosas!...
tu compreenderás que a tua é única no mundo!..."

Ah! Como as rosas se parecem e como cada qual é sem igual!

Como tantos se parecem com o que amamos e como são diferentes!
Única é aquela pessoa que fez vibrar nosso coração um dia,

aquela pela qual sofremos, lutamos, jogamos tudo pro ar
e nossos olhos viram estrelas até nas noites mais escuras.

Sim...
quando o coração achar-se demasiado descontente e

desencantado, que ele passeie pelo jardim do passado,
onde reinava a magia e a esperança,
onde o amor tinha cheiro da pessoa amada e
transformava tudo o mais no mundo em nada!

Que ele redescubra que entre tantas e tantas pessoas iguais,

a que amamos é e sempre será única na vida da gente!
© Letícia Thompson

QUISERA, SENHOR, NESTE NATAL...


Quisera, Senhor,
neste Natal armar uma árvore dentro do meu coração e
nela pendurar, em vez de presentes,
os nomes de todos os meu amigos.
Os amigos de longe e de perto.
Os que vejo a cada dia e os que raramente encontro.
Os sempre lembrados e os que, às vezes, ficam esquecidos.
Os constantes e os intermitentes.
Os das horas difíceis e os das horas alegres.
Os que, sem querer, eu magoei, ou sem querer me magoaram.
Aqueles a quem conheço profundamente e
aqueles de quem conheço apenas as aparências.
Os que pouco me devem e aqueles a quem muito devo.
Meus amigos humildes e meus amigos importantes.
Os nomes de todos os que já passaram pela minha vida.
Quisera, Senhor,
neste Natal armar uma árvore de raízes muito profundas para que
seus nomes nunca mais sejam arrancados do meu coração.
De ramos muito extensos, para que novos nomes vindos
de todas as partes venham juntar-se aos existentes.
De sombra muito agradável, para que nossa amizade
seja um aumento de repouso nas lutas da vida.
Que o Natal esteja vivo em cada dia do ano que se inicia.
Para que possamos viver juntos o amor.
Um feliz Natal a todos nós!
(AD)

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

TEMPO DE VIDA


Era uma vez, um homem muito observador.
Ele estava sempre atento a tudo o que o rodeava.

Um dia ele sentiu vontade de visitar a cidade de Kammir
e após dois dias de marcha por caminhos
empoeirados, ao longe avistou Kammir.

Um pouco antes de chegar, chamou-lhe a atenção
uma colina que se encontrava à direita do caminho.

Ela estava coberta de um verde maravilhoso,
com numerosas árvores, pássaros e flores encantadoras.

Tudo estava rodeado por uma cerca envernizada.
Uma pequena porta de bronze o convidava a entrar.

Ele resolveu conhecer melhor aquele lugar.
Entrou e foi caminhando lentamente entre as
brancas pedras distribuídas no meio das árvores.

Permitiu que seu olhar pousasse como borboleta
em cada detalhe daquele paraíso multicor.

Como era extremamente observador, descobriu,
sobre uma daquelas pedras, a seguinte inscrição:
"Abdul Tareg viveu oito anos, seis meses, duas semanas e três dias."
Sentiu-se um pouco angustiado ao perceber
que aquela pedra não era simplesmente uma pedra, era uma lápide.
Teve pena ao pensar em uma criança
tão nova enterrada naquele lugar.

Olhando ao redor, o homem se deu conta de que a
pedra seguinte também tinha uma inscrição.
Aproximou-se e viu que estava escrito:
"Yamir Kalib viveu cinco anos, oito meses e três semanas."

O homem sentiu-se muito transtornado.
Aquele belo lugar era um cemitério, e cada pedra era uma tumba.
Uma por uma começou a ler as lápides e todas tinham
inscrições similares: Um nome e o exato tempo de vida do falecido.

Porém, o que lhe causou maior espanto foi comprovar que
quem mais tinha vivido, apenas ultrapassara os onze anos.
Invadido por uma dor muito grande, sentou-se e começou a chorar.

A pessoa que tomava conta do cemitério,
que naquele momento passava por ali,
aproximou-se. Permaneceu em silêncio enquanto
olhava o homem a chorar e,
após algum tempo, perguntou-lhe se chorava por alguém da família.

- Não, ninguém da família, respondeu o visitante.
- Mas o senhor pode me responder o que se passa nessa cidade?
Que coisa tão terrível acontece aqui?
Por que tantas crianças mortas enterradas neste lugar?
Qual a horrível maldição que pesa sobre essas pessoas
que as obrigou a construir um cemitério só para crianças?

O velho sorriu e falou:
- Pode acalmar-se. Não existe nenhuma maldição.
O que acontece é que aqui temos um antigo costume e eu vou lhe contar.
Quando um jovem completa quinze anos, ganha de seus pais uma caderneta,
como esta que eu mesmo levo aqui, pendurada no pescoço.
É uma tradição do meu povo que a partir dessa idade,
cada vez que desfrutamos intensamente
de alguma coisa boa, anotamos na caderneta.

À esquerda o que foi desfrutado e à direita, o tempo que durou.
É assim que anotamos. Se conhecermos uma moça e
nos apaixonarmos por ela,
quanto tempo durou essa paixão e o prazer em conhecê-la?
Uma semana?
Duas?
Três?
E depois, a emoção do primeiro beijo, quanto durou?
Um minuto e meio?
Dois dias?
Uma semana?
E a gravidez ou o nascimento do primeiro filho?
E a tão desejada viajem, por quanto tempo desfrutamos integralmente?
E o encontro com o irmão que retorna de um país distante?
Quanto tempo desfrutamos dessas situações?
Horas?
Dias?
Meses?
Assim, vamos anotando na caderneta cada momento bem aproveitado,
cada minuto que valeu a pena.
E quando alguém morre, é nosso costume abrir a caderneta
e somar o tempo bem desfrutado para gravá-lo sobre a pedra,
porque esse é, de fato, para nós, o único tempo que foi vivido.
Pense nisso!
No balanço final dessa curta existência na Terra,
o que terá verdadeiramente valido a pena,
será o que de bom e útil tivermos vivido.

(AD)




INVENTE SEU NATAL

Leticia Thompson

Invente seu Natal!
Faça algo diferente!
Faça o melhor que puder
Com aquilo que tiver!
Enfeite-se, alegre-se.
Se não tem dinheiro,
Encha seu coração de amor!
Seja a própria árvore
Com bolinhas coloridas
E muito riso!
O calor que emana do seu abraço
Dinheiro nenhum no mundo
Pode comprar.
Dê um abraço, um sorriso,
Um eu gosto de você, um te amo...
...Seja você o presente!

domingo, 5 de dezembro de 2010

Feliz Natal

CICATRIZES


Cesare Belisarius

Hoje abri meu baú de recordações...
vasculhei sonhos, remexi ilusões,
toquei feridas... toquei desilusões.

Coisas que marcaram, músicas que ficaram,
poemas de Drummond...
perfumes que ainda exalam e espalham pelo ar,
nos aromas de cada história vivida
e de cada sensação sentida,
o néctar do meu passado !

E bem lá no fundo, escondido
em meio às paixões esquecidas,
encontrei um amor que tanto machucou,
mas que o tempo cicatrizou.

Num misto de saudade e tristeza,
revivi os tantos momentos de alegria e tormento
Momentos felizes, momentos de festa e euforia...
mas que foram momentos roubados,
pela vida negados...

Um amor extirpado, dois seres divididos,
cada qual em seu caminho,
seguindo novos destinos, novos sonhos,
novas paixões, novos desatinos,
novos recomeços...

Vida... sábia conselheira, experiente timoneira,
nos conduziu a outras direções.
Tempo... bálsamo de todas as dores,
fecha todas as feridas,
deixando em seu lugar apenas cicatrizes...

Mas hoje, ao te encontrar neste baú de recordações,
não sei se de surpresa... pois te julgava esquecido,
não sei se de emoção... que já não julgava sentir,
um soluço sufocou meu peito e eu chorei...
chorei...chorei... chorei

E assim, após tanta lágrima derramada,
senti minha alma lavada e foi aí que descobri
Que as cicatrizes, na verdade,
são apenas feridas disfarçadas...

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

ENSAIO SOBRE A AMIZADE


"Nesta página, hoje, sem razão especial nem data marcada,
estou homenageandoaqueles que têm estado
comigo seja como for, para o que der e vier..."

Que qualidade primeira a gente deve esperar de alguém com quem pretende um relacionamento? Perguntou-me o jovem jornalista, e lhe respondi: aquelas que se esperaria do melhor amigo. O resto, é claro, seriam os ingredientes da paixão, que vão além da amizade. Mas a base estaria ali: na confiança, na alegria de estar junto, no respeito, na admiração. Na tranqüilidade. Em não poder imaginar a vida sem aquela pessoa. Em algo além de todos os nossos limites e desastres.

Talvez seja um bom critério. Não digo de escolha, pois amor é instinto e intuição, mas uma dessas opções mais profundas, arcaicas, que a gente faz até sem saber, para ser feliz ou para se destruir. Eu não quereria como parceiro de vida quem não pudesse querer como amigo. E amigos fazem parte de meus alicerces emocionais: são um dos ganhos que a passagem do tempo me concedeu. Falo daquela pessoa para quem posso telefonar, não importa onde ela esteja nem a hora do dia ou da madrugada, e dizer: "Estou mal, preciso de você". E ele ou ela estará comigo pegando um carro, um avião, correndo alguns quarteirões a pé, ou simplesmente ficando ao telefone o tempo necessário para que eu me recupere, me reencontre, me reaprume, não me mate, seja lá o que for.
Mais reservada do que expansiva num primeiro momento, mais para tímida, tive sempre muitos conhecidos e poucas, mas reais, amizades de verdade, dessas que formam, com a família, o chão sobre o qual a gente sabe que pode caminhar. Sem elas, eu provavelmente nem estaria aqui. Falo daquelas amizades para as quais eu sou apenas eu, uma pessoa com manias e brincadeiras, eventuais tristezas, erros e acertos, os anos de chumbo e uma generosa parte de ganhos nesta vida. Para eles não sou escritora, muito menos conhecida de público algum: sou gente.

A amizade é um meio-amor, sem algumas das vantagens dele mas sem o ônus do ciúme – o que é, cá entre nós, uma bela vantagem. Ser amigo é rir junto, é dar o ombro para chorar, é poder criticar (com carinho, por favor), é poder apresentar namorado ou namorada, é poder aparecer de chinelo de dedo ou roupão, é poder até brigar e voltar um minuto depois, sem ter de dar explicação nenhuma. Amiga é aquela a quem se pode ligar quando a gente está com febre e não quer sair para pegar as crianças na chuva: a amiga vai, e pega junto com as dela ou até mesmo se nem tem criança naquele colégio.

Amigo é aquele a quem a gente recorre quando se angustia demais, e ele chega confortando, chamando de "minha gatona" mesmo que a gente esteja um trapo. Amigo, amiga, é um dom incrível, isso eu soube desde cedo, e não viveria sem eles. Conheci uma senhora que se vangloriava de não precisar de amigos: "Tenho meu marido e meus filhos, e isso me basta". O marido morreu, os filhos seguiram sua vida, e ela ficou num deserto sem oásis, injuriada como se o destino tivesse lhe pregado uma peça. Mais de uma vez se queixou, e nunca tive coragem de lhe dizer, àquela altura, que a vida é uma construção, também a vida afetiva. E que amigos não nascem do nada como frutos do acaso: são cultivados com... amizade. Sem esforço, sem adubos especiais, sem método nem aflição: crescendo como crescem as árvores e as crianças quando não lhes faltam nem luz nem espaço nem afeto.
Quando em certo período o destino havia aparentemente tirado de baixo de mim todos os tapetes e perdi o prumo, o rumo, o sentido de tudo, foram amigos, amigas, e meus filhos, jovens adultos já revelados amigos, que seguraram as pontas. E eram pontas ásperas aquelas. Agüentei, persisti, e continuei amando a vida, as pessoas e a mim mesma (como meu amado amigo Erico Verissimo, "eu me amo mas não me admiro") o suficiente para não ficar amarga. Pois, além de acreditar no mistério de tudo o que nos acontece, eu tinha aqueles amigos. Com eles, sem grandes conversas nem palavras explícitas, aprendi solidariedade, simplicidade, honestidade, e carinho.

Nesta página, hoje, sem razão especial nem data marcada, estou homenageando aqueles, aquelas, que têm estado comigo seja como for, para o que der e vier, mesmo quando estou cansada, estou burra, estou irritada ou desatinada, pois às vezes eu sou tudo isso, ah!, sim. E o bom mesmo é que na amizade, se verdadeira, a gente não precisa se sacrificar nem compreender nem perdoar nem fazer malabarismos sexuais nem inventar desculpas nem esconder rugas ou tristezas. A gente pode simplesmente ser: que alívio, neste mundo complicado e desanimador, deslumbrante e terrível, fantástico e cansativo. Pois o verdadeiro amigo é confiável e estimulante, engraçado e grave, às vezes irritante; pode se afastar, mas sabemos que retorna; ele nos agüenta e nos chama, nos dá impulso e abrigo, e nos faz ser melhores: como o verdadeiro amor.
Lya Luft