terça-feira, 22 de junho de 2010

APRENDENDO A SER GENTE


Paulo Franklin
Cresci tendo os livros como amigos. Comumente me deparava com pessoas de carne e osso e buscava uma maneira sensata de me relacionar com elas. A timidez - sempre ela - me impedia de enxergar as capacidades adormecidas dentro de mim e travava diante do desafio de iniciar um diálogo. O tempo passou e eu descobri que ninguém aprende a se relacionar com as pessoas lendo as histórias dos livros. Gente só aprende a ser gente vivendo ao lado de gente.

Quando mais nos aproximamos das pessoas, mais nos humanizamos. É gostoso viver assim: aprendendo um pouco de cada pessoa que passa por nós. Coisas boas, coisas nem tão boas assim. Importante mesmo é enxergar o outro como essencial para nosso crescimento. Se é verdade que um filho cresce observando o exemplo dos pais, todo ser humano necessita do outro para aprender as lições que nos preparam para a vida.

O que dizer daqueles que fogem dos relacionamentos como o Diabo foge da cruz? Ninguém cresce se não se permite sentar num banco da praça para observar como as pessoas vivem. Não significa deixar de ser você para viver a vida do outro. Trata-se de ter amigos, bons exemplos a guiar nossos passos. Exatamente aquilo que prega o adágio popular quando diz que duas cabeças pensam melhor do que uma. Individualidade sim, Individualismo jamais.

A presença do outro cura, liberta-nos de nossos problemas e nos faz enxergar a vida com otimismo. Viver sozinho, ao contrário, é assinar um contrato com a infelicidade, que vem muitas vezes disfarçada da falsa desculpa de que é melhor estar só do que mal acompanhado. Viver acompanhado, ainda que de alguém "pior" do que nós, é sinal de sabedoria, pois nos permite aguentar as tormentas da vida de cabeça erguida.

Conheço uma pessoa madura quando a descubro cheia de amigos. Os individualistas não têm tempo de emprestar seu tempo para conhecer alguém e deixar-se conhecer por alguém. Os sábios, ao contrário, investem nos relacionamentos, mesmo quando as pessoas se revelam interesseiras, egocêntricas e insensatas. Ninguém nunca perdeu nada sendo amigo de alguém, mas muitos vivem arrependidos porque criaram um castelo de solidão cuja saída nem eles mesmo conseguem encontrar.