terça-feira, 4 de maio de 2010

O TEMPO DE CADA UM


Agna Farias

“Apressa-te lentamente”
(Ítalo Calvino)


É muito comum escutarmos quando estamos atravessando momentos difíceis, pessoas nos dizendo: "Calma, deixe o tempo passar", ou "Com o tempo tudo se resolve". Também nos dizem que fomos precipitados, imaturos, impacientes, que não demos "tempo ao tempo" ou que estamos esperando tempo demais para resolvermos algo. Mas de que tempo falam?

Existem dois tipos de tempo: o cronológico, que é igual para todos, e o interno, que é subjetivo, singular.

Maria Rita Kehl, em “O tempo e o cão”, nos diz como o depressivo lida com o tempo:
“... o depressivo foi arrancado de sua temporalidade singular; daí sua lentidão, tão incompreensível e irritante para os que convivem com ele...”.

Dependendo do caso (entre outros, como o do depressivo citado pela Khel), se faz necessária uma intervenção profissional, mas na maioria das vezes as pessoas precisam apenas de um tempo de recolhimento, necessário para reorganizar suas emoções e recobrar a sua força.

Nada pior para alguém que está em estado de lentidão do que uma pessoa lhe apressando, lhe dizendo sobre a necessidade de tomar uma decisão ou de reagir com mais rapidez ao que lhe está acontecendo – isso é uma violência ao seu tempo interno. Obviamente não faço aqui uma apologia à inércia ou ao masoquismo, apenas chamo a atenção para o tempo que cada um necessita para tomar suas próprias decisões e colocá-las em prática.

Da mesma forma, cada um sabe quanto tempo suporta viver determinada situação. Penso ser leviandade dizermos a alguém que ele poderia ter suportado um sofrimento por mais tempo, que provavelmente o problema poderia ter um desfecho mais favorável caso fosse suportado com a ajuda do tempo. Não! Cada um tem seu próprio momento de desenvolvimento emocional e se faz necessário que isto seja respeitado.

Outra nuance: muitas vezes não há absolutamente nada que possamos fazer, precisamos esperar que outra pessoa tome uma atitude que poderá mudar nossas vidas, como no caso de uma admissão em um emprego ou aquele que amamos decidir se ficará ao nosso lado ou não. Muita calma nesse momento.

Em primeiro lugar, o outro, assim como nós, tem seu próprio tempo para tomar suas decisões, não temos o direito de apressá-lo.

Em segundo lugar, não precisamos ficar de braços cruzados enquanto outra pessoa pensa o que fazer ou não conosco. Podemos – e devemos - cuidar das nossas vidas. Esperar por uma decisão que não depende de nós não significa ficarmos inertes, impassíveis. A propósito dos exemplos acima, procurar alternativas de trabalho ou não permitir que um sofrimento nos perturbe além do necessário é possível. Aliás, através destes movimentos poderemos até descobrir um emprego melhor do que o a princípio almejado ou perceber que não “amávamos” tanto assim... Mas tudo em perfeita harmonia com o tempo de cada um.