terça-feira, 17 de dezembro de 2019

DENTRO DA GENTE


Algumas pessoas viverão pra sempre, dentro da gente. E a gente precisa dar um jeito de acomodar essa presença, que agora é feita de lembranças, porque algumas pessoas se apressaram e foram embora antes de nós.
As memórias dos afagos, dos sorrisos, dos abraços apertados… de vez em quando nos assaltam, roubam nosso sorriso e deixam lágrimas no lugar. É doloroso sim, quem poderá negar?
Em alguns dias a gente pensa em quem partiu, revira nosso baú de histórias e agradece aos céus por ter tido o direito de vivê-las. Em outros, mais cinzas, o remendo se solta e o coração da gente se despedaça de novo. A dor é intrusa e teimosa. É difícil conseguir conviver com ela. Mas depois  achando estranho o fato de ter que carregar esse fardo tão dolorido.
E a gente se percebe pensando na ilusória possibilidade de ter a chance de escutar uma última risada, uma última vez. Nada. E de nada em nada, vamos entendendo que algumas pessoas se tornaram brisa, e agora vivem no fundo de nossas memórias.
E apesar do silêncio e do vazio assombroso, o amor vai fazer com que elas não se despeçam totalmente. Uma parte delas, a melhor parte, permanecerá para sempre, dentro da gente. (Ainda bem, porque não poderíamos sobreviver se não fosse assim). E conforme o tempo passa, a gente vai percebendo que a saudade é uma forma diferente de se amar quem partiu.
Por isso mesmo é que se deve saber sentir saudade. Conhecer bem o lugar que ela deve ocupar dentro de nós e por limites nesse lugar. Saudade não é pra ser criada solta, fazendo de nós o que bem quer. Ela precisa saber que não pode sapatear sobre nossas outras emoções.
Embora a ausência de quem nos deixou pareça nos comprimir, nem tudo é feito de dor. Tem beleza, sorrisos e prazer, que ficaram no ar, suspensos de alguma forma, e nunca irão nos deixar. Tem memória boa, gosto bom de foi bom enquanto durou. E isso não passa, não se substitui nem fica para trás. O som da voz que nos chamava, o abraço que nos aconchegava, apenas mudou de consistência. Agora é nuvem. Uma bruma leve que vez ou outra nos envolverá para dizer que houve mudança, mas que de alguma forma vai ficar. Para sempre!
Contudo, é preciso obrigar a ir o que nos faz escravos: a dor que nos submete e nos tira do chão. Disto, despeçamo-nos! E assumamos que se foi de nós um pedaço, mas que uma lembrança boa ficou no lugar.

(Por Alessandra Piassarollo)