sábado, 9 de abril de 2011

SUGESTÃO


Sede assim — qualquer coisa

serena, isenta, fiel.


Flor que se cumpre,

sem pergunta.

Onda que se esforça,

por exercício desinteressado.

Lua que envolve igualmente

os noivos abraçados

e os soldados já frios.


Também como este ar da noite:

sussurrante de silêncios,

cheio de nascimentos e pétalas.

Igual à pedra detida,

sustentando seu demorado destino.

E à nuvem, leve e bela,

vivendo de nunca chegar a ser.


À cigarra, queimando-se em música,

ao camelo que mastiga sua longa solidão,

ao pássaro que procura o fim do mundo,

ao boi que vai com inocência para a morte.

Sede assim qualquer coisa serena, isenta, fiel.

Não como o resto dos homens.

Cecília Meireles