Nem tudo é preto e nem
tudo é branco na vida. Se muitas vezes temos a impressão que o mundo e todas as
misérias dele recaem sobre nós é por que não olhamos com mais objetividade para
nosso interior ou os passos que deixamos para trás.
É próprio do ser humano,
ou da maior parte dele, de revisitar a vida mais facilmente nos momentos
dolorosos. Vamos, passo a passo, revendo isso mais aquilo, sempre somando as
tristezas.
Parece que queremos nos
convencer da nossa razão de tristeza existencial, provar a nós e aos outros o
quanto somos privados da felicidade que cremos (mas só cremos!) destinada a
alguns privilegiados.
A cada ano quatro
estações distintas que nos mostram que a vida está sempre em movimento. A cada
dia variações de temperatura e de luminosidade que provam que a vida não é
estática. E é assim conosco. Depois das primeiras
horas, primeiros dias e primeiros anos muito e muito aconteceu.
Por que então privilegiar os momentos onde a vida pareceu mais árdua, por que medir os rios de lágrimas que choramos e não os quilômetros de sorriso que demos? Mesmo se poucos (e o que é pouco na contagem de uma vida?), esses momentos existiram. Com certeza, existiram.
A vida sorri aqui e
acolá. Sorri quando nasce uma criança, quando brota uma flor, quando as férias
chegam, quando revemos alguém depois de longo tempo, quando nosso coração
descobre a alegria de enxergar outro coração e assim por diante.
Não fugindo da realidade
que nos cerca e que devemos enfrentar, é bom relembrar o que de bom e bonito
nos aconteceu. Visitar mais vezes nos recantos da memória o bem que nos
fizeram, o dia mais marcante, os momentos que compartilhamos e as gargalhadas
que demos.
Devemos acreditar que no
muro que está diante de nós pelo menos uma janela vai se abrir, assim como se
abriram as portas pelas quais atravessamos e que nos conduziram até o hoje.
Quando a vida nos sorri
devemos tirar um retrato dela e colocar num grande quadro, bem visível no lugar
que mais ficamos na nossa casa. E olhar pra ele mais vezes, mais intensa e mais
profundamente.
Um momento de felicidade
pode ser muito maior e compensar centenas de outros menos alegres. Se
acreditamos nisso vivemos muito mais e muito mais serenamente.
© Letícia Thompson