A experiência do tempo define, em
muito, as pelejas do caminho. Marcar os dias somente com as horas que
passam, não alimenta o coração com esperança. Fardo pesado, assim sendo. Vida
humana sobrevive é da graça. Daquele tempo sem registro definido, incalculável.
Coisa parecida com eternidade, com o que não morre no fundo da gente. Como
sacrário, em penumbras profundas, a alma inspira. Ora sossegada, agradece; ora,
aflita, entristece. De alegrias e dores, cresce em raízes de memória sempre
vivaz. Lago, de águas mansas e agitadas, a vida é cíclica, companheiro; diversa
mesmo! Seu grande segredo? Movimento. Então, sem essa de querer tudo num passo
de mágica. É preciso andar e, no caminho, dar tempo ao tempo, em estações
diversas.
Cuidado, de verdade! Armadilhas
não faltam. Em dias atuais, elas habitam tantos excessos. Que volúpia em possuir
tudo em instantes pequenos, ou em protelar as coisas sem responsabilidade. Sem
ritmos e ritos, o caminho fica curto. Seria inconveniente manter, no imaginário,
ilusões de plenitude, de um tempo sempre cheio. Quantas promessas de heroísmos,
de ganhadores de uma vez só! Gente nasceu para buscar, sonhar, projetar, aceitar
demoras e, humildemente, esvaziar-se. Caso não se cuide, a raça humana se
transformará em
objeto de mercado. Vendendo e comprando desejos. E aí,
você sabe, muitos ganharão com fonte tão preciosa. Outros
andarão por trilhas amargas. Há que se ter coragem nessas
travessias e, nas perdas e ganhos, mergulhar a
existência em sentidos mais profundas. Sem ânsias de
chegada rápida, afinal, hoje é graça com saudades de ontem e
vontade de amanhã.
Lembre-se, constantemente, que
homem não é máquina. Doloroso seria tentar manipular, depois do corpo, o
espírito. Nas lucrativas tentativas de mapear dores e alegrias, há quem ganhe,
vendendo promessas fáceis de felicidade. Ah! O grão de trigo, mencionado por
Jesus, exige metamorfose. Caso não aceite a transformação lenta, não ressurgirá
em broto. Ponha, então, um pouco de sabedoria em seu viver. Para ser sábio, é
preciso ser amigo do céu, irmão dos irmãos, sem olhar o mundo com olhos vorazes.
Como diz Guimarães Rosa: “O correr da vida embrulha tudo. A vida é assim:
esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela
quer da gente é coragem”.
Pe. Vicente Ferreira,
C.Ss.R.
Superior
Provincial